quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Crianças e propagandas

Os caras que "inventam" as propagandas são assim, querem que os prováveis consumidores lembrem-se e muito bem de seu produto, para que isso aconteça inventam bordões, inventam necessidades, até musiquinhas grudentas, e como essas coisas pegam!
Antigamente, quando eu era criança, meu pai era avesso à televisão, aliás continua sendo,  então eu não vivi certas coisas, mas sei que existiram,  a certa hora, todas as noites passava o anúncio dos cobertores Parahyba, era hora de dormir, naquele tempo essas coisas eram levadas muito a sério, as crianças iam dormir. Sabe o "jingle" das Casas Pernambucanas? ( lembrei dele por estar um frio daqueles!) Esse mesmo... "Não adianta bater..."já existia!
Pois é, propaganda com musiquinha é do tempo que se amarrava cachorro com linguiça, minha avó, vira e mexe recitava as propagandas do rádio ou os anúncios do bonde (Veja, ilustre passageiro / O belo tipo faceiro  /Que o senhor tem ao seu lado. /E no entanto, acredite. /Quase morreu de bronquite /Salvou-o o Rum Creosotado.).   
Eu cresci numa casa com televisão esporádica, às vezes tinha, e nós adorávamos, minha mãe controlava bem a televisão, nas férias as coisas ficavam mais tranquilas e ela deixava a gente assistir televisão um pouquinho, era o suficiente, em três minutos a gente já decorava todas as musiquinhas, ela ficava muito brava! No começo ela brigava, chamava a gente de "macacos de imitação", mas não adiantava, o que é um macaco de imitação, afinal?
Mas um dia tudo mudou, era férias, estávamos todos lá em Atibaia, provavelmente  já tinhamos destruido a quadra de tenis, naquelas férias minha mãe teve uma ideia genial, já que nada mais adiantava e nós já estávamos bem crescidos e fazíamos aquilo de propósito, cada vez que recitávamos algum "reclame" ela nos obrigava a falar uma tabuada! Simples assim, no começo era só reclamação, mas ela era poderosa e nos ameaçava, se bobeássemos ela nos expulsava de casa! Não tinha jeito, quanto mais rápido falássemos, mais rápido ela nos deixava em "paz".
Nós estudamos muita tabuada, chegou ao ponto de "cantarmos" a tabuada espontâneamente, foi o ano das balas de leite... e a música é uma delícia, dá vontade de cantar de brincar, sei lá . Ela também tentou com as conjugações dos verbos!
Pode até ser que eu tenha aprendido a tabuada e o pretérito-mais-que-perfeito de algum verbo, mas não esqueci de nenhum jingle que passava na televisão, cada coisa mais sem nexo, outras muito loucas...outras históricas e até essa versão feita pelo próprio autor da original, que na época disse, "vendi (a música) pois me pagaram muito bem  e não tem como traduzir "febre terçã" para o inglês," afinal ele ganhou muito dinheiro com as versões para o inglês de suas músicas!
Pensei nisso tudo por me deparar com o a mesma questão só que no outro papel. Fui vítima dos pôneis malditos, fiquei com essa musiquinha na cabeça, sem perceber comecei a cantarolar... na mesma hora a caçula fez coro, na maior alegria, levando a sério... eu ia dar um sermão, mas não dei.
Acho uma chatice essa coisa de levar propaganda a sério,  mas gosto de assistir, para depois falar mal, ou não, não dá para esquecer que alguns jingles são de autoria de grandes compositores, o Renato Teixeira ficou famoso com a música sertaneja mais linda do mundo, o que muita gente não sabe é que  ele compôs um monte de jingles, vai ver ser escrever jingles é mais rendoso ,  e o jingle das balas é de sua autoria, outras tantas também, tudo isso para dizer que nem toda musiquinha de propaganda é ruim ou infame, de fato algumas  são boas de verdade, o problema é a lavagem cerebral!
Engatei a conversa ameaçando com a tabuada completa (por que eu sou mais radical) cada vez que imitasse uma propaganda, era a deixa para a conversa que eu queria ter , a televisão está ai, mas já temos condição de saber avaliar a programação, a tendência dos telejornais, a mensagem de cada propaganda.... não dá para engolir tudo sem um mínimo de questionamento.
Essa história de questionamento também é uma habilidade construída, os mais velhos precisam alertar os mais novos, meus filhos dizem que eu brigo com a televisão, mas é o jeito que eu tenho de mostrar para eles essa história de questionamento na prática, agora, aqui em casa, vira e mexe tem alguém fazendo observações do tipo - "pensei que essa propaganda fosse de loteria, do jeito que falam parece que você vai ficar milionário se comprar esse produto" - sinal que minhas conversas com a televisão estão dando resultado... afinal cada um luta com as armas que tem.



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