sábado, 8 de janeiro de 2011

Porque lavar a louça do jantar

Essa é uma curiosidade que estava esquecida... quando íamos para Atibaia, nas férias, muitas vezes minha tia sugeria que ficássemos em pé depois das refeições, ela contava que aprendera aquilo com a mãe de uma amiga de juventude, tal senhora dizia que sentar durante a digestão, engorda!
Esse era exatamente o nosso caso, era melhor não engordar, mais!
Eu tinha esquecido essa história.
A certa altura da vida minha mãe desistiu, definitivamente, de ter funcionárias dormindo em casa, quando saímos do Itaim e fomos morar no fim-do-mundo, onde não chegavam linhas de ônibus, foi preciso trazer alguém que dormisse em casa, apesar de experiências nem tão bem sucedidas, não havia opção, trouxeram uma moça, lá da Bahia para trabalhar em casa, assim como a Cecília e a Maria, Bibi vinha do interior, era analfabeta, assustada, não tinha intimidade com o telefone, se atrapalhava com aspirador, liquidificador e outras modernidades, a única pessoa que conhecia em São Paulo era a prima dela que trabalhava numa casa no Higienópolis.
No início tudo ia bem, mas Bibi começou a se sentir triste, vivia dentro do apartamento, não conversava com ninguém, estava solitária, nos finais de semana era preciso levá-la até a casa da prima, ela não conseguia andar de ônibus sozinha, São Paulo era um mistério para ela.
O dia já tinha escurecido, minha mãe e meu pai ainda não tinham chegado em casa, estávamos os cinco e a Bibi em casa, de repente ela começou a chorar e gritar, dizia que não queria mais viver, ia se matar, encostou a cadeira na janela, tirou a sandália e já ia se ajeitando no beiral para da janela pular, corri para evitar aquilo.
Eu tinha mais ou menos 14 anos e me lembro muito bem, naquele momento, eu tinha duas preocupações, uma com minha irmã caçula, que era muito novinha e estava assustada com aquele movimento todo, a outra era com meus pais, eu não saberia explicar um corpo estendido no chão, oito andares abaixo de nós. Acho que era depressão, ela não aguentou a solidão.
Assim passamos a conviver com a louça do jantar, era uma epopeia, minha mãe achava que cada um tinha que lavar seu prato, meu pai fazia coro, era uma chatice ficar na fila, um dia meu irmão, o Metralha Um, resolveu a parada, decidiu que lavaria a louça uma vez por semana e nada mais, foi assim que passamos a fazer um rodízio fraterno, cada dia um lava toda a louça. No final da semana, numa família de sete pessoas, cada um lavou sete pratos! Como é esperto esse Metralha!
Isso tudo aconteceu muito antes de eu pensar em ter minha própria casa, logo que casei, tive uma única experiência, contratei uma moça que me deu tanta preocupação que preferi riscar essa possibilidade da minha vida, depois, quando mudamos para esse apartamento essa deixou de ser uma possibilidade.
Aprendi, então a me organizar de maneira a não sofrer, apesar de não gostar, sempre lavo a louça do jantar, mais por obrigações técnicas que razões diversas. Fui pega de surpresa, mais de uma vez, com o telefone na mão de olho na pia cheia de louça do dia anterior e a notícia fatídica, a secretária não vem!
A louça, aqui em casa, tem o poder de se multiplicar, quanto mais louça suja, mais aparece louça para ser lavada. Detesto mais a louça no dia seguinte, por isso eu lavo, às vezes reclamando, mas lavo. Além de tudo isso, minha pia da cozinha está em petição de miséria, uma novinha será instalada na próxima semana, mas sempre fico achando que muita louça dentro da pia pode causar um acidente, se a cuba soltar o estrago é federal! Melhor lavar!
Além da obrigação, sempre há essa esperança de não estar engordando com a comida do jantar.
Se é verdade, muito bom, se não é pelo menos a louça não acumulou na pia!

Um comentário:

Dinorah disse...

Paola!
Que bom que você me encontrou e eu lhe encontrei - concordo exatamente com TUDO! Odeio cozinha, panelas, louças suja, mas fazer o quê?
Vou segui-la achei ótimo o seu blog me identifiquei.
beijos
Dinorah