domingo, 28 de junho de 2009

Atualidades

Esse é mais um dos posts transmitido pela minha entidade querida, a Chata-de-Galochas, que no referido dia, se estivesse mesmo de galochas, não teria molhado seus lindos pezinhos, talvez assim, estivesse agora mais calma e relaxada, sem se preocupar com coisas tão fúteis como as aqui relatadas!
Quando eu nasci, lá na distante década de 1960, essa era uma cidade provinciana, que copiava costumes de grandes metrópoles, desejava ser chique, mas ainda existiam bairros que chegavam a ser bucólicos, cercas brancas e portões baixos das casinhas românticas enchiam algumas ruas, outras ainda eram povoadas pelos sobrados populares dos operários italianos que deixaram suas marcas nessa que já queria ser grande.
Naquela época os bondes ainda circulavam por ai, o leite era entregue na porta das casas, em garrafas de vidro, as crianças usavam sapatos de couro para ir para a escola. Nem todas as casas dispunham de telefone, o correio era uma meio de comunicação usado para manter contato com parentes e amigos.
Eu conheci a cidade antes do Itaim ser transformado pela construção da Avenida Faria Lima, antes da Vila Olímpia ser um bairro descolado, onde hoje está a Av. Juscelino Kubitschek, havia apenas um descampado e a indispensável Marginal Pinheiros, não existia. O Shopping Iguatemi, recém inaugurado, vinha para responder ao chamado da praticidade, tudo num só lugar, havia um Pão de Açúcar, uma loja do correio, barbearia, cabelereiro, sapateiro outros serviços, além das lojas, que vinham para substituir o comércio da Rua Augusta, que já não comportava mais tanto trânsito.
Nesse tempo antigo, o abastecimento de víveres era bem especializado, no açougue, carnes, na mercearia, grãos, alimentos industrializados e os alimentos frescos, como frutas e verduras, comprava-se nas feiras-livres, eu era criança e gostava de ir à feira com minha mãe, seguíamos pelas ruas do bairro, ela puxando o carrinho, éramos conhecidas pelos comerciantes que procuravam nos agradar com provinhas de suas frutas mais doces. Essa feira era montada na rua Tabapuã, uma via essencial para o bairro, logo transferida para ruas adjacentes, depois confinada num terreno da Eletropaulo, enquanto a empresa não utilizava tal espaço.
A cidade cresceu, muitas feiras foram transferidas para espaços confinados, como os estacionamentos do Estádio do Morumbi e do Pacaembu, outras simplesmente deixaram de existir.
As feiras-livres são mesmo uma modalidade de comércio curioso, um monte de gente adora ir à feira escolher as verduras nem sempre fresquinhas que ficam cozinhando ao sol a manhã inteira, depois, à tarde, os feirantes recolhem suas barracas, vão embora e deixam a sujeira toda para trás, para algum órgão público vir limpar tudo depois, mas o cheiro fétido continua, deixado pelas barracas de peixe, de frango. Outro ponto que chama atenção é a inexistência de sanitários na rua, sendo assim, é natural que muitos dos seres vivos que montaram suas barracas ao romper do dia, lá pelas tantas estejam ardendo de necessidade, e se aliviam nas mesmas calçadas onde empilham sua mercadoria.
Ontem, ao sair do lançamento do livro, quase seis horas da tarde, descobri que em plena Vila Madalena, aos sábados, há uma feira-livre, na Mourato Coelho, talvez a rua mais importante do bairro, a rua fica interditada até quase ao anoitecer, esperando a limpeza, tão inadequado! Era sábado e mesmo assim o trânsito estava caótico como todos os dias, para piorar a situação, não há vagas para estacionar e a chuva garantiu o tom estressante, que nós, os locais, já conhecemos tão bem.Detesto passar nos lugares onde houve feira, tão sujo, tão feio.
Aqui em São Paulo com tanto supermercado, sacolão, entrega em domicílio, as feiras -livre são inúteis, não encontro nenhuma vantagem.
Quando casei, morava lá no Itaim, havia feira às quarta e aos sábados, no tal terreno da Eletropaulo, eu pegava minhas sacolas e me despencava a procurar o preço mais adequado, a fruta mais brilhante, depois voltava carregando aquele peso todo, ao chegar em casa era outro processo complicado, guardar tudo... Só gosta de feira, os turistas de cozinha, aqueles que, por nunca precisar encarar um fogão por obrigação, transformam em passeio aquilo que para a maioria é obrigação, fazem parecer bacana sair pela rua ostentando uma sacola com os ingredientes para um único risoto.
Quando nos mudamos para esse bairro afastado me deparei com a dura realidade da feira durante a semana, eu que já cultivava o péssimo hábito de trabalhar, tive que me adaptar, então passei a abastecer minha geladeira no supermercado, surpresa, é muito mais vantajoso, acreditem! As frutas duram mais, as verduras também, as embalagens são mais limpas , não há cheiros impróprios, e ainda posso escolher o dia mais adequado à minha rotina, desde então, nunca mais voltei à uma feira-livre.
Ao ser vítima do transito da feira-livre na Vila Madalena, me pergunto a quem interessa esse costume tão antiquado?

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