sexta-feira, 19 de setembro de 2008

DNA

Uma chama-se Catharina, outra Maria.
Nasceram na mesma cidade, mais ou menos a mesma idade.
Primas, iam para a escola juntas, isso lá na Itália, antes do século passado.
Como elas chegaram aqui eu não tenho muita certeza, mas foi aqui que se casaram, com moços que vieram do mesmo lugar que elas.
Uma, eu já quase, contei a história, aquela que estava grávida quando o marido se envolveu com o partido anarquista e foi demitido.
A outra, também, é a mãe daquela  mocinha, que saltava da plataforma de 10 metros.
As duas tiveram, cada uma, seis filhos. Dizem que quinta-feira era o dia em que uma visitava a outra, costume antigo, tomavam o lanche da tarde, na casa de uma ou na casa da outra. 
Ficaram avós, muitos netos. Todos criados mais ou menos juntos, nas mesmas festas, nos piqueniques, nos casamentos, às vezes nas mesmas inaugurações.
Anos mais tarde, o neto de uma se enamora da neta da outra, casam-se, nascem as crianças, os bisnetos dessas duas nonas. 
Foram amigas durante a vida toda. A foto comprova, com certeza é algum aniversário.
As duas, Catharina e Maria, primas-irmãs, com mesmo sobrenome quando solteiras, minhas bisavós.
Tenho lembranças vivas com as duas. Sinto, ainda, cheiros e gostos. 
O cabelo escuro de uma era natural! Uma coisa que sempre me surpreendeu!
A outra tinha o cabelo branquinho, branquinho, usava grampinhos para segurar tudo para trás!
Meu pai diz que sou parecida com a avó dele, nos traços e no jeito. Isso me orgulha.
Me lembro da avó da minha mãe fazendo comida para a família toda.
Contando essa história lembrei de um momento que me comoveu muito.
Maria foi casada por mais de sessenta anos, quando ela ficou doente, uma tarde estávamos fazendo uma visita, ela já estava fraquinha, acamada. Nunca vou esquecer, meu bisavô sentado na beira da cama, ele era grandão, segurando a mão dela, pedindo para que ficasse melhor.
Naquele dia aprendi o significado do que chamam por aí de "amor eterno".
Maria morreu logo depois. Catharina viveu até noventa e poucos anos, eu tinha dezesseis, idade suficiente para nunca esquecer da presença delas na minha vida.

3 comentários:

Blueberry disse...

Que lindo! Agora entendi os nomes de suas filhas!
E o meninão? Como é mesmo o nome dele?

Beijoooooooo

ARMANDO MAYNARD disse...

Família é o que há de mais importante na nossa vida.Os EXEMPLOS, costumes, hábitos, festas, alegrias e tristezas,tudo tem um grande significado e fica entranhado em nossa memória,fazendo com que nos reportemos sempre as nossas RAIZES.Um abraço,Armando(lygiaprudente.blogspot.com)

Cristina Sampaio disse...

Bom ouvir essas histórias de vida, Paola, muito bom, e você conta com um envolvimento especial, que deixa tudo mais bonito.
Beijos