Pensei que fosse mais fácil, mas não é. Achei que era só escrever do jeitinho que estava pensando, acontece que as palavras escritas são mais pesadas que as palavras pensadas.
Veio a notícia, o tempo de tal pessoa na Terra acabou, ela se foi, estava doente? Internada? Alguma doença cronica? Não, nada de diferente, mas a hora dela chegou.
O cinema americano enche nossa imaginação de imagens e sugestões, quando soube imaginei uma estação de trem, uma construção antiga, tijolos vermelhos, alicerces de ferro, nessa estação os trens chegam e partem com hora marcada sem atraso, quem está com a passagem reservada vai embarcando, há os que chegam com folga, outros atrasados, correm para alcançar o trem que já vai dando sinais dos primeiros movimentos. Esse é o caso de embarque rápido, sem aviso, sem tempo para despedidas.
Faz muito tempo que não vejo essa pessoa, acho que foi no enterro do marido dela que a vi pela última vez, depois mudou-se para bem longe.
Me perguntaram, e você vai ao enterro? Já fazia tempo que vocês não se viam, uma já tinha morrido para a outra!
Isso é verdade, mas eu vou a esse tipo de compromisso muito mais pelas pessoas que ficam, que pelas pessoas que se vão. Quem precisa de apoio são os familiares que estão sofrendo a ausência de um ente querido.
Não sei se outras pessoas tem esse tipo de reação, mas eu, ao saber da morte de alguém costumo ter "flashes-backs", lembro de momentos que estive junto com essa pessoa, o jeito dela falar, andar e tudo que me faça recuperar a pessoa dentro de mim, depois ofereço à lembrança dela um tempo de silêncio.
Longe de mim ofender as crenças dos outros, cada um oferece o que tem, eu posso oferecer um profundo silêncio, um momento de memória, assim ao chegar lá estou pronta para confortar os que ficaram com as lembranças que tenho do homenageado, sempre fiz isso, mas na última missa de sétimo dia que eu fui, o padre em seu sermão lembrou que o melhor conforto é a lembrança daquele que se foi.
Agora que já pude pensar um pouco no assunto, tenho que ir.
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