sábado, 26 de fevereiro de 2011

A grande faxina

Matilde resolveu que a casa dela estava atolada de tranqueiras, fez a limpa, sobrou quase nada nos armários, gavetas e maleiros.
Soube por uma amiga que havia uma loja de trocas, Matilde se animou, trocar suas tranqueiras por utensílios de primeira necessidade.
Juntou sapatos forrados de cetim, um jogo de chá de porcelana com motivos orientais, seu vestido de noiva, uma estola de vison, uns paletós do Lorival, alguns livros da faculdade, uns bibbelôs e um televisor sete polegadas do Lorival.
Toda contente, certa de estar se livrando do peso extra, atravessou a cidade até o tal estabelecimento.
Uma mulher de cabelos cor de cenoura, unhas rosa-choque recebeu Matilde na maior simpatia, seus olhos faiscavam cada vez que Matilde puxava de dentro da sacola uma de suas porcarias.
Segundo a conta da fulana, Matilde tinha um crédito de 500.000 cruzeiros.
Toda animada, Matilde se pôs a procurar as utilidades espalhadas nas estantes da loja, cada objeto tinha uma etiqueta indicando o valor, logo Matilde constatou que seu crédito não era muito, teve vontade de ir embora, não estava encontrando as tais utilidades.
Acabou levando para casa duas perucas, três pares de óculos, um castiçal Luís XVI e um par de galos de prata.
Chegou em casa toda pampeira, achando que tinha levado a maior vantagem.
Naquela noite Lorival teve um ataque, como trocar um televisor de sete polegadas por um par de galos de prata? Inconcebível!!!!
Matilde fez beicinho, se fez de ofendida, óculos escuros Matilde? Você enjoa até com o para-sol do carro abaixado!
Os galos de prata ficaram morando lá no aparador por pouco tempo, até que um deles caiu no pé do Lorival, foi o fim dos dois.
O televisor de sete polegada foi lembrado por uns quinze natais, até Lorival acreditou que Matilde estivesse curada.
Que nada, anos mais tarde, quando se viu frente a frente com um caixote de pertences de sua falecida mãe, Matilde não hesitou, levou tudo para um brechó, recomendadíssimo por uma amiga, estava contente, dessa vez iria vender as bugigangas.
No dia que Matilde foi ao lugar a mulher estava ocupada, disse para Matilde deixar a caixa que ela faria o levantamento e depois avisaria o valor, combinaram que Matilde voltaria dias depois para fechar o negócio.
Não é que a tal mulher morreu e Matilde nunca mais soube de suas coisas ou do dinheiro.
Se souber de algum brechó, "família-muda-se", feira de escambo, é capaz de Matilde juntar a prataria só para ver em que golpe vai cair!

3 comentários:

Bethânia disse...

Eu adoro os "causos" daqui. Sempre legal passar e compartilhar essas palavras. Ótima semana e bom domingo! Abraços!

Dinorah disse...

A Matilde é maravilhosa! Morri de rir. Menina que tino para negócios heim? Quem não fez "bons negócios" assim que atire a primeira pedra.
beijos para a Matilde. ainda estou rindo

Paola disse...

Meninas...
essa Matilde me deixa louca!
bjs
PAola