quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Outro pouco de tumitinhas


O raio de sol matinal iluminava o quarto, as paredes pintadas de amarelo refletiam a luz alegremente, as janelas eram abertas com generosidade, para ventilar, para renovar o ar viciado da noite, vai ver, por isso éramos, somos tão saudáveis.
As camas eram arrumadas com a presteza de especialista, que desde de sempre soube da arte de arrumar camas, nos dias mais folgados, se é que isso existisse na minha casa, minha irmã e eu éramos convocadas a ajudar.
Adorava esse ritual, com as janelas abertas, sacudíamos os lençóis e cobertores, uma nuvem de poeira dançava nos filetes de luz, aquilo era tão lindo!
Depois, então, o ritual começava, esticar o lençol de baixo, puxa de cá, puxa de lá, faz uma dobra em cada canto para ajeitar as sobras de pano e coloca tudo por baixo do colchão.
Lençol de cima esticado, cobertor por cima, faz-se a dobra por cima do cobertor, ajeita-se o lençol nos pés, coloca-se o excedente para baixo do colchão, levanta-se a lateral do lençol dobra-se como um embrulho de presente, coloca-se tudo por baixo do colchão, por último a colcha, conforme o modelo.
Aí está um dos maiores tumitinhas da paróquia, eu era bem pequena e minha mãe dizia que esse era o jeito que se arrumavam as camas em hospitais, e como ela havia aprendido? Eu imaginava ela toda de branco trabalhando como enfermeira, minha mãe enfermeira? Já naquela época eu sabia que ela desmaiava a qualquer traço de sangue, que passava mal com qualquer coisa. Pois é, soube mais tarde que quando solteira ela foi voluntária em um orfanato da Cruz Vermelha, ajudava no berçário, ah! Mas enfermeira?
Depois que as camas estavam arrumadas, dobrávamos os cobertores sobressalentes, ela de um lado, nós do outro, ai que frisson! Dobrar os cobertores em duas! Uma segurava de cá, outra de lá, juntava-se as pontas, depois andávamos até o meio do caminho, ai encontrávamos a "chefe" que acabaria o serviço! Dobrávamos os pijamas, nos trocávamos e íamos brincar.
Quando minha irmã caçula nasceu e minha mãe ficou doente pra mais de metro, ficou tão amarelinha, a coitada, foram meses de cama, nessa época muita gente veio ajudar, era uma loucura, às vezes a gente chegava da escola e encontrava alguém fazendo o almoço e nem sabíamos quem era, a mãe dela vinha pela manhã, ajudava minha mãe no banho, e fazia um suco de tangerina, eu lembro, e pedia que eu levasse para ela, lá em cima no quarto, eram tantas as recomendações que eu suspirava aliviada quando alcançava o último degrau, dever cumprido, sem derramar uma gota sequer!
Muito mais tarde conheci a sogra da minha cunhada, um pouco mais velha que minha mãe, estudou na mesma escola que minha mãe e minha avó, arruma as camas exatamente da mesma maneira, com a mesma ciência, e imaginei que elas tenham aprendido a arrumar camas na escola, o que não é impossível!
Quando casei descobri que arrumar camas não é uma ciência exata como eu imaginava, em 23 anos de casada nunca encontrei uma secretária do lar que soubesse arrumar camas, no começo eu só dizia que era para arrumar a cama, descobri que existem milhares de maneiras de arrumar as camas, uma vez uma delas arrumou de um jeito x e por fim "embalou" tudo com o lençol de elástico, é difícil imaginar, mas isso não é nada, por isso eu ensino todo mundo a arrumar camas!
Hoje, ao arrumar minha cama, ao fazer a famigerada dobra, lembrei de tudo isso.

5 comentários:

Dinorah disse...

Paola,
Que lindo! Adorei! Lembranças de tempos de infância são tão gostosas. Senti como se estivesse estendendo um lençol em dia de sol. Adorei a parte da secretária que "embrulhou" a cama com o lençol de elastico - a gente sempre imagina que já viu tudo ha ha ha - muito bom.
Um beijo e boa noite!
Dinorah

Dinorah disse...

Paola,
Que lindo! Adorei! Lembranças de tempos de infância são tão gostosas. Senti como se estivesse estendendo um lençol em dia de sol. Adorei a parte da secretária que "embrulhou" a cama com o lençol de elastico - a gente sempre imagina que já viu tudo ha ha ha - muito bom.
Um beijo e boa noite!
Dinorah

Dinorah disse...

Paola,
Que lindo! Adorei! Lembranças de tempos de infância são tão gostosas. Senti como se estivesse estendendo um lençol em dia de sol. Adorei a parte da secretária que "embrulhou" a cama com o lençol de elastico - a gente sempre imagina que já viu tudo ha ha ha - muito bom.
Um beijo e boa noite!
Dinorah

Bethânia disse...

Oi, passei por aqui e me deparei com esse lindo texto. Que legal. Boas lembranças. Sou do tipo que arrrumar a cama pode ser de qualquer jeito, ninguém nunca me ensinou técnica nem nada. Detesto quando elas têm um dos lados encostado na parede. Mas sabe, vou pensar melhor sobre isso. Obrigada pelo texto! Abraços!

Paola disse...

Meninas... são dessas coisas que minha cabeça é feita...não deve ser normal!kkkkkkkk
Obrigada pela participação!
PAola