terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Loucuras e bobagens


O marceneiro, que tem nome de árvore, Pereira, e seu ajudante chegaram, trouxeram o armário as portas e todos os apetrechos.
Eu estava esperando, também o homem-da-pia, aquele que ia me dar o cano no outro dia e deixou para dar o cano no dia de instalar o sifão... melhor assim, nesses casos sempre posso contar com o Chaves, ligo para ele, em casa, ninguém atende, a celular cai na caixa postal, cadê o Chaves? Demorou mas chegou, chegou aliás na hora certa, assim que o armário já estava colocado.
Sabe como é, enquanto um enroscava a válvula e o outro aparafusava uma porta, o papo rolou solto, eles se conheciam do tempo que o Chaves era porteiro. Um contou para o outro os caminhos que da vida, a aposentadoria e o trabalho autônomo, que agora ele é feliz, só pega serviço de pessoas que conhece e gosta, e já recusou trabalho na casa de uma mulher que queria que ele tirasse o sapato para entrar lá! A conversa começou mesmo quando o Chaves elogiou o serviço do Pereira, que ficou todo contente, aproveitou e contou que nunca mais apareceu na casa uma cliente, por tê-lo mandado lavar as mãos a cada minuto, só que ela mesmo colocava o detergente, não queria que ele pegasse o frasco...
Ao ouvir esses relatos entendi, finalmente, a razão pela qual os funcionários da NET colocam pró-pé para entrar na casa das pessoas, tem gente que não gosta.
Lembrei também de casos semelhantes que já ouvi aqui e ali, consigo entender as razões de donas-de-casa zelosas que com o medo de contaminação exageram nos cuidados, chegando ao limite dos transtornos de comportamento.
A conversa, afinal, foi animada, mais animada fiquei eu, com a cozinha tinindo de linda. Tão feliz quanto eu, está o pinguim que mora encima da minha geladeira.
Enquanto eles conversavam fiquei pensando na função e uso social da fala, nem sei se isso é uma coisa que existe, mas percebi uma diferença imensa entre a conversa deles com a maneira que se comunicam comigo.
Não sou capaz de apontar a razão da mudança, talvez elencar possíveis motivos, mas enquanto eu era a interlocutora, falavam pausadamente, usavam um vocabulário muito próximo da forma culta, por outro lado, na conversa entre eles a velocidade aumentava astronomicamente, além de usarem algumas reduções e aglutinações de difícil entendimento, de longe, parecia que falavam um dialeto, uma outra língua.
Hoje cedo liguei para o "diskhelp" da Fiat, preciso saber detalhes do funcionamento do meu carro, fui muito bem atendida pelo Bruno, que sem sombra de dúvida, é nascido e criado e morador de Belo Horizonte e adjacências, só faltou me oferecer um pão de queijo e um "cafezim", o jeito de falar, de pedir que eu aguardasse um "momentim", foram suficientes para eu lembrar que a fábrica fica em Betim, Minas Gerais.
O uso social da comunicação determina a maneira como os usuários dessa língua farão uso de cada uma de suas ferramentas, interessante é que apesar de da língua ser uma só, cada região, cada grupo se apropria dela de maneiras diversas e criativas "inventando" gírias, sotaques, dialetos... Num país do tamanho do Brasil seria impossível imaginar uma só entonação, uma só característica linguística!

Um comentário:

Dinorah disse...

Que maravilha Paola! Já tens uma cozinha linda e ainda uma tese maravilhosa sobre comunicação.
Parabéns ao seu pinguim lindo!