sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Delírios literários

Estou retomando meu velho ritmo de leitura, hoje terminei o "A outra volta do parafuso", de Harry James, devo confessar que nunca fui de ler esses "clássicos", por causa dessa lacuna, resolvi ler o maior número possível de títulos da coleção da Abril.
Estava toda animada, "O falecido Mattia Pascal" é um livro gostoso de se ler, uma história interessante, propõe um questionamento interno filosófico, o que fazer com a liberdade total? Como agir diante de uma nova que se apresenta repentinamente?
Em seguida, fui castigada, fiquei sabendo por uma pessoa especialista no assunto que essa tradução é ruim mesmo... mesmo assim me arrisquei e escolhi, como sempre um livro aleatoriamente, apenas por simpatizar com o título. A Outra Volta do Parafuso, nome estranho, mas sugestivo, pode ser qualquer coisa.
Descobri, finalmente que é uma história de fantasmas... eu gosto desse tipo de leitura... mas é tão minucioso, tão detalhista que não dá para se assustar, dá isso sim, para suspeitar de coisas piores.
Em poucas palavras, duas crianças ficam órfãs, seu tutor, um tio, solteirão e rico, acolhe as crianças em sua casa no campo, contrata um monte de criados e pede para não ser incomodado,
Ele contrata uma preceptora que não fica muito tempo no cargo, o menino vai para uma escola, mas na época das férias, com a volta do menino, precisa de uma nova responsável pela educação das crianças, ao chegar na casa ela percebe que as coisas não são assim tão simples, começa a ter visões estranhíssimas, as crianças tem um comportamento mais estranho ainda, sempre cordatas comportam-se como zumbis.
O livro foi escrito em um tempo em que a etiqueta era tudo, aquela questão do "Orgulho e Preconceito", ele olhou assim, ela suspirou assado, e todo mundo entendeu que ele havia pedido a mão em casamento e ela não poderia aceitar já que a classe social dele era maior que a dela, o vice-versa, nada foi dito, tudo foi entendido. Da mesma maneira que ao escrever Dom Casmurro, Machado de Assis, achou que estava claro que Capitu havia traído Bentinho, e assim foi entendido durante muitos anos, ai vem o século XX e põe tudo sob uma outra ótica, a psicanálise lança luzes novas e diz que Bentinho era doente da cabeça, tanto reviraram o caso que o Millôr deu uma interpretação completamente diversa, para ele, o terceiro na relação era a própria Capitu, o caso era entre o Bentinho e o Escobar, e ainda mostra, página por página onde há traços da relação dos dois!
Pois é, voltando às voltas dadas, são tantas voltas no tal do parafuso que a certo momento passei a acreditar numa história que não foi escrita totalmente, segundo minha interpretação pelo menos o menino foi molestado sexualmente, quando o abuso foi descoberto, o tio expulsou o empregado da casa e mandou o menino para a escola, no meio de outros meninos, ele começou a reproduzir os mesmos comportamentos com os colegas, por isso foi expulso da escola.
Como cheguei a essa conclusão?
O silêncio do menino e de sua irmã, além é claro da explicação dada à preceptora, ele foi só queria ser carinhoso com os colegas, por isso foi expulso!
Para mim, as visões que a preceptora viu eram apenas alucinações, o isolamento fez com que a moça ficasse histérica, a verdade dos fatos era forte demais para a filha de um humilde pároco do interior.
Provavelmente o menino também abusou da irmã, afinal ela tem uns delírios e fala coisas, que fazem com que a governanta leve a menina para longe dali, fica a preceptora que resolve tudo em dois minutos!
Ai como é dura a vida de uma pobre leitora como eu, às vezes é punida pelo excesso de palavras, às vezes é a falta que castiga, acho que estou precisando de tônico Xavier (isso é uma coisa muito antiga)!
Agora comecei o Brás Cubas, bem brasileiro, do Machadão que eu já estou acostumada, e é da tal da coleção!

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