
Muitos já tentaram, mas ninguém nunca conseguiu um manual de instruções do funcionamento geral dos filhos, por exemplo.
Quando cheguei em casa com a filha que já pode votar, naquela tarde fria de inverno, em 1990, toda minha vã filosofia, minha didática e psicologia, minha sabedoria com bebês, construída ao longo de uns dez anos como baby-sitter, foram pelo ralo, direto para o esgoto. Aquela miniatura de gente nos deu o maior baile! Bem que o maridão desconfiou, ela estava com fome! E com frio, disso nós não suspeitávamos! Comecei a entender, naquela noite, que a maternidade não é uma ciência exata.
Quando o moleque nasceu eu estava preparada, sabia, eu não faço leite, então comprei as mamadeiras e uma lata de Nan, ai quem não dormia era eu, tive a maior insônia da paróquia.
Ele, outro dia, afirmou, que eu sou hiperativa.
Fiquei pensando, de repente eu sou mesmo, isso não é impossível.
Afinal é esperado que a mulher moderna dê conta de tudo, administre a casa, ensine tudo e dê ordens à empregada, domine a cozinha, saiba como lidar com os filhos, seja uma profissional competente e não é só isso, não, a mulher moderna tem que ser uma máquina do sexo, sempre pronta, sempre disposta e linda, magra e tonificada! Noutros tempos diriam, sacudida!
Acho muita coisa para uma pessoa só! O pior é que tem gente que acredita ser possível!
Na chamada do Fantástico, noutro domingo, diziam que em São Paulo há o maior número de mulheres estressadas do Brasil! Ah? É mesmo?
Estamos estressadas, ficamos muito bravas quando alguém vem com o dedo apontando nossa ferida, sim.
As mulheres evoluíram? Saíram de dentro de casa, foram à luta... e se estreparam!
Minha questão, hoje é a relação com os filhos, com o resto do mundo, deixo para depois, afinal, os filhos são para sempre.
Apesar de todo o amor, todo o cuidado, às vezes tenho vontade de afogar um, ou dois, quem sabe os três na privada e dar a descarga, claro!
De todas as relações possíveis, a relação com os filhos é algo diferente das demais. Nem com irmãos, e olha que eu tenho um monte, nem com marido, com ninguém é assim.
Existe entre mãe e filhos uma intimidade construída, conforme eles vão crescendo vão aprendendo a verbalizar coisas que sabem a nosso respeito, e como sabem, e o que sabem.
Cada um à sua maneira é capaz de traçar um perfil perfeito dos gostos, maneiras e trejeitos de sua mãe, e estou falando dos meus filhos, juntando tudo há um retrato perfeito, que às vezes pode sim incomodar, afinal nem sempre queremos a verdade tão nua, tão crua.
Já escrevi em algum lugar que a convivência com adolescentes é extenuante, além da energia que eles tem, tendem a querer ter sempre razão... e como ficaram surdos, de repente!
Eu por minha vez, continuo tentando desvendar a maravilhosa fábrica de mistérios que é a adolescência dos próprios filhos.
A propósito, também fui adolescente, meus pais foram figuras fundamentais para que a passagem fosse menos dolorida possível, agora é a minha vez, apesar dos tempos terem mudado, um pouco o papel da família continua sendo primordial no desenvolvimento de seres humanos.
A razão da foto? Eu tenho a minha. Cada um tira a sua conclusão... a foto é de minha autoria, o caminhão estava parado no meu lado num sinal aqui perto, e eu gostei da danada!
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