quinta-feira, 10 de junho de 2010

Manual do usuário

Ainda bem que quando a gente compra um liquidificador, um carro ou computador, recebe junto um manual de instruções, com garantia e tudo, ainda bem mesmo, pois precisamos de todo tempo que gastaríamos desvendando os mistérios de tais bugigangas, disponível para escrever nosso próprio manual de convivência com as pessoa que nos rodeiam.
Muitos já tentaram, mas ninguém nunca conseguiu um manual de instruções do funcionamento geral dos filhos, por exemplo.
Quando cheguei em casa com a filha que já pode votar, naquela tarde fria de inverno, em 1990, toda minha vã filosofia, minha didática e psicologia, minha sabedoria com bebês, construída ao longo de uns dez anos como baby-sitter, foram pelo ralo, direto para o esgoto. Aquela miniatura de gente nos deu o maior baile! Bem que o maridão desconfiou, ela estava com fome! E com frio, disso nós não suspeitávamos! Comecei a entender, naquela noite, que a maternidade não é uma ciência exata.
Quando o moleque nasceu eu estava preparada, sabia, eu não faço leite, então comprei as mamadeiras e uma lata de Nan, ai quem não dormia era eu, tive a maior insônia da paróquia.
Ele, outro dia, afirmou, que eu sou hiperativa.
Fiquei pensando, de repente eu sou mesmo, isso não é impossível.
Afinal é esperado que a mulher moderna dê conta de tudo, administre a casa, ensine tudo e dê ordens à empregada, domine a cozinha, saiba como lidar com os filhos, seja uma profissional competente e não é só isso, não, a mulher moderna tem que ser uma máquina do sexo, sempre pronta, sempre disposta e linda, magra e tonificada! Noutros tempos diriam, sacudida!
Acho muita coisa para uma pessoa só! O pior é que tem gente que acredita ser possível!
Na chamada do Fantástico, noutro domingo, diziam que em São Paulo há o maior número de mulheres estressadas do Brasil! Ah? É mesmo?
Estamos estressadas, ficamos muito bravas quando alguém vem com o dedo apontando nossa ferida, sim.
As mulheres evoluíram? Saíram de dentro de casa, foram à luta... e se estreparam!
Minha questão, hoje é a relação com os filhos, com o resto do mundo, deixo para depois, afinal, os filhos são para sempre.
Apesar de todo o amor, todo o cuidado, às vezes tenho vontade de afogar um, ou dois, quem sabe os três na privada e dar a descarga, claro!
De todas as relações possíveis, a relação com os filhos é algo diferente das demais. Nem com irmãos, e olha que eu tenho um monte, nem com marido, com ninguém é assim.
Existe entre mãe e filhos uma intimidade construída, conforme eles vão crescendo vão aprendendo a verbalizar coisas que sabem a nosso respeito, e como sabem, e o que sabem.
Cada um à sua maneira é capaz de traçar um perfil perfeito dos gostos, maneiras e trejeitos de sua mãe, e estou falando dos meus filhos, juntando tudo há um retrato perfeito, que às vezes pode sim incomodar, afinal nem sempre queremos a verdade tão nua, tão crua.
Nesse exato momento, ando um tanto desgastada, juro que já não estou com muita vontade de saber o que eles estão pensando de mim, aliás, me poupem, não quero saber, mesmo.
Já escrevi em algum lugar que a convivência com adolescentes é extenuante, além da energia que eles tem, tendem a querer ter sempre razão... e como ficaram surdos, de repente!
Eu por minha vez, continuo tentando desvendar a maravilhosa fábrica de mistérios que é a adolescência dos próprios filhos.
A propósito, também fui adolescente, meus pais foram figuras fundamentais para que a passagem fosse menos dolorida possível, agora é a minha vez, apesar dos tempos terem mudado, um pouco o papel da família continua sendo primordial no desenvolvimento de seres humanos.
A razão da foto? Eu tenho a minha. Cada um tira a sua conclusão... a foto é de minha autoria, o caminhão estava parado no meu lado num sinal aqui perto, e eu gostei da danada!

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