terça-feira, 7 de julho de 2009

Bodas de vida


Fui concebida no dia sete de Julho, eu contei isso bem aqui, há um ano, foi no dia do casamento dos meus pais, sempre soube disso, essa era a história do dia, todos os anos, na época em que eu nasci houve quem quisesse duvidar, afinal eu nasci no dia quatro de Abril, três dias antes, minha mãe conta que uma fulana foi na maternidade querendo fazer contas, coitada, da fulana, né?
O namoro dos dois, eu acredito, começou a ser desenhado, combinado, muito antes daquele dia de Santo Antônio, numa festa da empresa de um conhecido, quando começou oficialmente.
As família de um era aparentada da família do outro, sempre se conheceram, sempre frequentaram as mesmas festas, as mesmas comemorações, primeiro um morava no Canindé, a outra no Bom-Retiro, o pai de um era engenheiro, tinha uma industria mecânica, o pai da outra era empresário, dono de torrefação, num tempo em que no Brasil o trabalho e a vontade de crescer eram suficientes para a prosperidade garantida.
As coisas foram melhorando e as duas famílias mudaram-se para o Pacaembu, foram morar na mesma rua, um empurrão e tanto.
Antes do namoro começar, um ia na casa do outro por causa da amizade com a irmã dele, com os irmãos dela.
O casamento, cheio das pompas recomendadas para a ocasião foi o desfecho natural dos desejos de tantos envolvidos.
Vivendo a minha parte dessa história, eu sei que é exatamente ai, depois do casamento, que partem para contruir sua verdadeira história.
Com o casamento eles romperam definitivamente com o que julgavam desnecessário, velhas manias sociais, costumes fúteis, decidiram viver a vida conforme suas prioridades, a começar pela própria relação. O casamento era deles e só deles, só dizia respeito a eles e a mais ninguém, nunca houve espaço para intromissões externas, nunca houve espaço para opiniões alheias, sogra, cunhada, comadre, vizinha eram apenas possíveis visitas, às vezes, a ajuda necessária, mas nunca palpite convidado. Agora, pensando nisso, eu descobri onde eu aprendi a preservar minha intimidade, foi em casa mesmo, apesar de todas as brigas deles, sempre estiveram juntos.
Quando éramos pequenos, houve um tempo em que eles participaram do encontro de casais, eu detestava isso, uma vez eles foram escolhidos para dar uma palestra, eles estavam combinando como seria a fala e meu pai comparou o casamento à um bote com dois ocupantes descendo uma correnteza, se cada um remar para um lado, não sairão do lugar e provavelmente ficarão esgotados e afundarão, se remarem para o mesmo lado, conseguirão superar a dificuldade.
Nesses 47 anos eles viveram todo tipo de experiência, muitas dificuldades, muitas conquistas, muitas realizações, às vezes penso, que sempre começam uma conversa discordando um do outro, mas só para manter um clima animado.

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