Em 2002, fui trabalhar numa entidade que atendia crianças de 0 a 14 anos, aqui bem pertinho.
Eu era Coordenadora Pedagógica de todas as três creches e dos dois EGJ (Espaço Gente Jovem), e eu adorava. A entidade contava com parceiros, voluntários, muita gente trabalhando por um objetivo comum, transformar a realidade daquelas quinhentas e poucas crianças através de experiências educacionais e culturais.
Um de nossos diretores era um "bam-bam-bam" de um banco inglês que já havia sido muito maior no Brasil e naquele momento operava como banco de investimentos. Nem sei como, eles ( o pessoal do banco) queriam (não vou entrar nesse detalhe) montar um programa de jovens aprendizes, alguns bancos, na época, já tinham ótimos programas, e eles não queriam ficar para trás. A turma do banco nos chamou, contaram que queriam implantar esse programa, mais ou menos do jeito deles, mas eles precisavam de nós, conversas para cá, conversas para lá, contrata-se uma educadora para acompanhar o grupo e dar aulas de Português e Matemática, o pessoal do banco era muito exigente. Depois de exaustivas negociações foi possível definir o perfil dos candidatos, escolher os funcionários do banco que dariam aulas de Inglês, Informática, Junior Achievement.
Depois de mais um pouco de negociação chegou-se ao número de jovens do grupo, apenas oito, pouco, mas era esse o número. Foi difícil escolher apenas oito, e o trabalho começou.
Foi preciso ter muita diplomacia para aparar as arestas, eram jovens de uma comunidade pobre em contato com executivos de um grande banco.
Foi preciso lidar com tudo, com o jeito dos voluntários cobrarem dos jovens, com o uniforme dos atendidos.
Um belo dia, recebo a notícia, os pessoal do banco queria que a responsável pelo projeto fosse eu, eles não gostavam da tal educadora, de fato, ela era light demais. Então, a entidade fez uma reformulação e eu fiquei por conta do projeto.
Um belo dia, uma das alunas me mostra uma nota que saiu na revista Época, o tal banco era um banco valioso e a matriz resolveu vender toda a operação no Brasil!
Meus alunos ficaram atordoados, pediram uma conversa com um "bam-bam-bam" que dava aulas e em quem eles confiavam, o resumo da ópera foi "blá-blá-blá", "o-banco-é-muito-forte-no-mercado-só-querem-saber-quanto-ele-vale", então tá, todos ficaram com a sensação de que alguma coisa não ia dar certo.
O tempo foi passando, o projeto era muito puxado, quase tirou sangue da minha turma. Mas ao
final do ano, meus alunos, haviam lido Saramago, Umberto Eco, Florbela Espanca, além de se apresentarem como grupo de percussão e terem montado uma "mini-empresa" de bijuterias que teve 200% de lucro. Agora só faltava o banco cumprir o prometido, contratar em regime de "Jovem-Aprendiz" os oito alunos, conforme o combinado.
Surpresa! E não é que o banco foi mesmo vendido? Para um banco-monstro-asiático, que já tinha um projeto-monstro-de-crianças-cantoras-na janela.
No final das contas, nos despacharam com uma mão na frente, outra atrás, sem emprego, sem nada, passamos um ano ouvindo promessas que se mostraram vazias, tudo não passou de sonho.
Era Dezembro, eu fui demitida, afinal a entidade havia contratado outra para meu lugar, meus alunos, que haviam ralado o ano todo, não sabiam que fazer.
Fiquei pasma, os pais dos alunos vieram falar comigo, afinal era comigo que eles sempre falavam, sentiam-se abandonados, diziam-se enganados, eu entendia muito bem a queixa deles, eu sentia a mesma coisa.
Havia uma última cartada para dar, haviam me prometido, mas no final todos estavam sendo demitidos, o tal comprador só ficou com uns poucos funcionários para facilitar a posse, ninguém nem lembrava dos oito jovens. Dessa forma, dependia de mim, dependia da minha cara-de-pau.
Descobri o número de telefone do projeto que eu considerava o melhor, descobri o nome da responsável, liguei, ela só aceitou entrevistar meus pimpolhos.
Eles foram aceitos no tal programa, ficaram, hoje são contratados do banco. Fico tão orgulhosa deles.
Pelo jeito essa coisa de compra-e-venda de banco só fez aumentar, mas eu não entendo nada disso.
Eu era Coordenadora Pedagógica de todas as três creches e dos dois EGJ (Espaço Gente Jovem), e eu adorava. A entidade contava com parceiros, voluntários, muita gente trabalhando por um objetivo comum, transformar a realidade daquelas quinhentas e poucas crianças através de experiências educacionais e culturais.
Um de nossos diretores era um "bam-bam-bam" de um banco inglês que já havia sido muito maior no Brasil e naquele momento operava como banco de investimentos. Nem sei como, eles ( o pessoal do banco) queriam (não vou entrar nesse detalhe) montar um programa de jovens aprendizes, alguns bancos, na época, já tinham ótimos programas, e eles não queriam ficar para trás. A turma do banco nos chamou, contaram que queriam implantar esse programa, mais ou menos do jeito deles, mas eles precisavam de nós, conversas para cá, conversas para lá, contrata-se uma educadora para acompanhar o grupo e dar aulas de Português e Matemática, o pessoal do banco era muito exigente. Depois de exaustivas negociações foi possível definir o perfil dos candidatos, escolher os funcionários do banco que dariam aulas de Inglês, Informática, Junior Achievement.
Depois de mais um pouco de negociação chegou-se ao número de jovens do grupo, apenas oito, pouco, mas era esse o número. Foi difícil escolher apenas oito, e o trabalho começou.
Foi preciso ter muita diplomacia para aparar as arestas, eram jovens de uma comunidade pobre em contato com executivos de um grande banco.
Foi preciso lidar com tudo, com o jeito dos voluntários cobrarem dos jovens, com o uniforme dos atendidos.
Um belo dia, recebo a notícia, os pessoal do banco queria que a responsável pelo projeto fosse eu, eles não gostavam da tal educadora, de fato, ela era light demais. Então, a entidade fez uma reformulação e eu fiquei por conta do projeto.
Um belo dia, uma das alunas me mostra uma nota que saiu na revista Época, o tal banco era um banco valioso e a matriz resolveu vender toda a operação no Brasil!
Meus alunos ficaram atordoados, pediram uma conversa com um "bam-bam-bam" que dava aulas e em quem eles confiavam, o resumo da ópera foi "blá-blá-blá", "o-banco-é-muito-forte-no-mercado-só-querem-saber-quanto-ele-vale", então tá, todos ficaram com a sensação de que alguma coisa não ia dar certo.
O tempo foi passando, o projeto era muito puxado, quase tirou sangue da minha turma. Mas ao
final do ano, meus alunos, haviam lido Saramago, Umberto Eco, Florbela Espanca, além de se apresentarem como grupo de percussão e terem montado uma "mini-empresa" de bijuterias que teve 200% de lucro. Agora só faltava o banco cumprir o prometido, contratar em regime de "Jovem-Aprendiz" os oito alunos, conforme o combinado.
Surpresa! E não é que o banco foi mesmo vendido? Para um banco-monstro-asiático, que já tinha um projeto-monstro-de-crianças-cantoras-na janela.
No final das contas, nos despacharam com uma mão na frente, outra atrás, sem emprego, sem nada, passamos um ano ouvindo promessas que se mostraram vazias, tudo não passou de sonho.
Era Dezembro, eu fui demitida, afinal a entidade havia contratado outra para meu lugar, meus alunos, que haviam ralado o ano todo, não sabiam que fazer.
Fiquei pasma, os pais dos alunos vieram falar comigo, afinal era comigo que eles sempre falavam, sentiam-se abandonados, diziam-se enganados, eu entendia muito bem a queixa deles, eu sentia a mesma coisa.
Havia uma última cartada para dar, haviam me prometido, mas no final todos estavam sendo demitidos, o tal comprador só ficou com uns poucos funcionários para facilitar a posse, ninguém nem lembrava dos oito jovens. Dessa forma, dependia de mim, dependia da minha cara-de-pau.
Descobri o número de telefone do projeto que eu considerava o melhor, descobri o nome da responsável, liguei, ela só aceitou entrevistar meus pimpolhos.
Eles foram aceitos no tal programa, ficaram, hoje são contratados do banco. Fico tão orgulhosa deles.
Pelo jeito essa coisa de compra-e-venda de banco só fez aumentar, mas eu não entendo nada disso.
3 comentários:
Ih, Paola, esses lances de projetos sociais que acabam com a dissolução da empresa parece com minha história! rs Também fiquei desempregada numa dessas. Felizmente para seus alunos você ainda conseguiu alocá-los.
No meu caso, não deu. Até pq a minha parte no projeto era muito técnica e não houve como ajudar...
E no final, o projeto que estava era um grande engodo para arrancar dinheiro público, pena que só descobri isso quando sai!
Paola, parabéns pelo sucesso, ainda que isso tenha lhe custado o controle do projeto! Digo sucesso, pois conseguiram obtê-lo, não fosse a sua teimosia. Compreendo perfeitamente a sua satisfação e orgulho, uma característica inerente a todos os bons professores/educadores. E como falta isso no Brasil... E quem é disposto a brigar contra o Estado e instituições, acabam por dar o próprio sangue por seus ideais.
Nossa Paola... vc é realmente uma mulher guerreira. Estou admirado com sua persistencia em alocar esses jovens aprendeizes.
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