Outra leitura para a crise
Abril 7, 2009 by José SaramagoA mentalidade antiga formou-se numa grande superfície que se chamava catedral; agora forma-se noutra grande superfície que se chama centro comercial. O centro comercial não é apenas a nova igreja, a nova catedral, é também a nova universidade. O centro comercial ocupa um espaço importante na formação da mentalidade humana. Acabou-se a praça, o jardim ou a rua como espaço público e de intercâmbio. O centro comercial é o único espaço seguro e o que cria a nova mentalidade. Uma nova mentalidade temerosa de ser excluída, temerosa da expulsão do paraíso do consumo e por extensão da catedral das compras.
E agora, que temos? A crise.
Será que vamos voltar à praça ou à universidade? À filosofia?
Tenho a impressão que este texto poderia estar em "A Caverna", mas como não tenho o livro para conferir, fica minha sensação.
A Caverna é um dos livros menos comentados, mas eu gosto, é um retrato detalhado do nosso mundo, sem maquiagem, sem meio termo.
O Saramago começou a pensar na história em uma viagem que fez ao Brasil, chegando à Belo Horizonte vindo do aeroporto
2 comentários:
É uma mentalidade saudosa e romântica na qual não há retorno. Durante a afluência econômica das últimas décadas, o homem se individualizou, buscou identificações com novas faunas urbanas desconcentrando as praças, multiplicou suas referências na vida social e o dinheiro trouxe a distinção mais clara entre o privado e o público. Porém, vc viu Londres por estes dias, durante o encontro de G20. Bastou a crise chegar e tocar o bem-estar privado e todos confluíram às praças por interesse comum. É um tema muito interessante e fértil. Confesso, Paola, que de Saramago lí apenas o "Levantado do Chão" (aquí traduzido como "Una Terra chiamata Alentejo"). Apenas para finalizar, acho que o coletivo ocupa as praças e catedrais apenas como superfície, porque hoje a internet se tornou um ponto de encontro seja para a vida social que política, não acha? Beijos!
LuMa, quanto ao Saramago, pode apostar, desde o Levantado no Chão ele mudou muito!
Se vc tiver a oportunidade de ler em Português mesmo, acho que é muito mais vantajoso, ele brinca com a língua, ele usa dos ruídos , dos sons, além é claro do modo próprio dos portugueses falarem, do rés-do-chão, da mulher-de-dias, tem um tom muito especial.
Acho que esse distanciamento que ele está se referindo aqui, têm muito haver com o seu post.
O dinheiro apenas nnao dá conta de tudo que é preciso para manter a civilização, há que se manter regras, usos sociais, quando há o distânciamento do social, sempre em prol do individual encontramos pessoas capazes de se comportarem como se estivessem em seu próprio quintal pela mais absoluta falta de conhecimento.
Sei lá, acho que a situacão émuito complicada e depende de todo mundo!
Beijo
PAola
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