sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ooó do Vovô

Minha amiga, a Selma, emprestou para a filha-que-já-pode-votar, que está lendo Sagarana, para o vestibular, um livro muito especial, o Ooó do Vovô, a correspondência do Guimarães Rosa com suas netas.

Fiquei emocionada, uma emoção que eu sinto, que eu tenho.
Ele era louco pela neta postiça.
Reconheci o tati-bi-tati, escrito pelo Vovô Joãozinho.
O dicionário, com as palavras da neta.
A lista com as histórias preferidas da neta, os desenhos e tudo.
Os escritos da menina.
É amor em forma de letra.
Esse livro foi escrito por um Imortal da Academia Brasileira de Letras.

"Mas, o mais importante, sempre, é fugirmos das formas estáticas, cediças, inertes, estereotipadas, lugares-comuns, etc. Meus livros são feitos, ou querem ser pelo menos, à base de uma dinâmica ousada, que, se não for atendida, o resultado será pobre e ineficaz. Não procuro uma linguagem transparente. Ao contrário, o leitor tem de ser chocado, despertado de sua inércia mental, da preguiça e dos hábitos. Tem de tomar consciência viva do escrito, a todo momento. Tem quase de aprender novas maneiras de sentir e de pensar. Não o disciplinado — mas a força elementar, selvagem. Não a clareza — mas a poesia, a obscuridade do mistério, que é o mundo. E é nos detalhes, aparentemente sem importância, que estes efeitos se obtêm. A maneira-de-dizer tem de funcionar, a mais, por si. O ritmo, a rima, as aliterações ou assonâncias, a música 'subjacente' ao sentido — valem para maior expressividade.
(...)"

(Guimarães Rosa, em carta a Harriet de Onís, de 4 de novembro de 1964)



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