segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Figura Carimbada

Eu aprendi a andar de bicicleta com a minha mãe, minha vizinha aprendeu a andar de bicicleta com meu avô! Ele me ensinou a a manobrar o carro ( quem diria, ele conseguiu amassar o teto do JK dele!) Comecei a lembrar do meu avô, por uma dúvida cruel, ele chamava-se João em homenagem ao tio, também João, ou por ter nascido no dia 24 de junho? Ou quem sabe, com uma congruência dessas ele só podia ter esse nome?
Era um senhor distinto, que se orgulhava de sua formação de engenheiro mecânico e elétrico, pelo Mackenzie, da primeira turma da engenharia em 1932. Estudou lá toda vida.
Por trás desse senhor distinto e respeitável, havia um avô radical, que gostava de aventuras e emoções fortes. Na praia, nos ensinou a pegar jacaré, e era mestre em construções na areia, com ele, os castelos chegavam quase no céu.
Ele gostava de inventar maneiras de complicar as coisas simples. Eles moravam num prédio cuja porta da garagem era acionada por chave ( muito moderno, diga-se de passagem,), de dentro do carro, virava-se a chave, a porta abria, passava-se com o carro, do lado de lá, acionava-se a chave e a porta, como num passe de mágica, fechava. Para meu avô, havia chave demais nesse processo, então ele desenvolveu o "método de acionamento rápido João Cavallari", muito simples. O método de acionamento rápido consistia em suprimir uma parada. Ele acreditava que seria possível acionar a porta, esperá-la abrir, assim que estivesse aberta, virava-se a chave novamente, a porta começaria a fechar, rapidamente acelerava o carro e saia pela porta, enquanto esta se fechava. Na teoria era perfeito, veja bem, ainda não existia a porta automática, que fecha depois de alguns segundos. O problema estava na execução, nem sempre ele acelerava o suficiente, nem sempre ele fazia a curva na medida correta, então o JK (a imagem que eu coloquei aí, é como ele gostaria que o JK fosse!) tinha amassados nos cinco lados. Um vez a porta fechou e o carro estava em baixo, ainda, assim ele amassou o teto do carro.
Ele contava muitas histórias, havia todo tipo de lembranças permeando nossas conversas e nossos passeios.
Ele dizia ter entrado no pulso do Cristo-Redentor durante a montagem do monumento. Contava que o Getúlio usou sua caneta para assinar um documento, e ensinou-lhe o truque da tampa, ao emprestar uma caneta, entregue-a, já sem a tampa, assim quem usou a caneta, a devolverá, nenhum louco vai enfiar uma caneta sem tampa no bolso. Com certeza, para mim, quando menina a melhor história de todas era a história das estátuas do Espéria.
Na Marginal do Tietê, aqui em São Paulo, tem o Clube Espéria, lá há cinco estátuas em colunas altas, são nadadores em posição de mergulho, como se esperassem o tiro de largada.
Ele contava que seu amigo, um escultor (que eu não sei o nome) havia recebido essa encomenda. Meu avô era um exímio nadador. Numa tarde, foi visitar o amigo no atelier, que estava lá envolvido com o projeto das estátuas, sabendo das qualidades natatória de meu avô, pediu que fizesse a posição de largada, meu avô, conta que ficou de cueca, em cima de um banco, um tempão, até que o amigo terminasse a observação.
Devo confessar, até hoje, quando passo por lá, ainda olho para as estatuetas e lembro do jeitão dele contar essa história!
Aos poucos foi ficando frágil e sensível, mas o espírito aventureiro sempre esteve presente.
Ah! aprendi muitas coisas com ele, estacionar o carro com apenas duas manobras, no método prático João Cavallari de estacionamento simples, foi só uma delas!

6 comentários:

Chaves disse...

Que lindo!
Ri muito com a história do carro. Na vida temos poucas pessoas assim, com uma personalidade tão especial, né? Abração!

Paola disse...

Obrigada!
Gosto de lembrar que tenho muitas histórias engraçadas, acho que é uma homenagem boa!

Beijos
PAola

Rita de Cássia disse...

Hahahah, QUE DELÌCIA DE Avô....
Que delicia de texto
Beijocas

Paola disse...

Obrigada!
Com um avô desses a gente tem que fazer alguma coisa!

Patricia Daltro disse...

Meu avô também foi uma pessoa especial! Chamava ele de meu mágico particular, pois tinha a capacidade de reinventar o que já existia. Um dia conto lá no blog sobre suas invenções. rs Quanto ao método João Cavallari de estacionamento, fica a pergunta, quantos lados você já amassou? rs

Paola disse...

Pelo incrível que pareça eu estaciono super bem, o método é bom! é teórico, então se seguir todos os passos, bingo!

Ele tinha problemas com a execução!!!!

Acho que você deve sentir algo parecido com meu sentimento, um conforto bom por ser povoada por lembranças de amor!

Beijos

Obrigada
PAola