Soluções caseiras

Lá pela década de 60, conta-se por aí, que houve uma moça, bem nascida, bem criada, casou-se nova, teve uma fila de filhos, parece que eram 4.
Naquele tempo, mulher não trabalhava fora, cuidava da casa, dos filhos e do marido.
Um dia começou a achar que seu marido estava meio estranho, umas atitudes duvidosas, de início não ligou, mas uma hora a pulga começou a chiar atrás da orelha, e a moça resolveu dar uma verificada, naquele tempo nem todo mundo tinha telefone, celular, nem pensar. Ela deu lá o jeito dela, conferido o serviço, o marido estava comendo fora, com mais frequência que ela imaginava.
Era moça boa, não boba. Preparou tudo e esperou.
Um dia no final da tarde o marido chegou em casa meio afobado, sabe? Avisou, "só vou tomar um banho e vou sair, não precisa me esperar para o jantar!" Ela não ia esperar.
Ele saiu. banhado, vestido, nos trinques, ela juntou a bagagem, os quatro filhos, mamadeiras, remédios, fraldas e tudo, enfiou tudo no carro e foi para onde seu marido, há tempos vinha se refastelando.
Tocou a campainha, uma mulher apareceu, não deu tempo nem de piscar, a moça muito educadamente disparou:
Aqui estão as crianças, aqui estão os remédios que o menor tem que tomar, as mamadeiras estão ali na sacola, a escola dos maiores começa às 7:30. Com todo sangue frio que foi capaz de juntar em suas veias , virou as costas e foi embora.
Em casa, não deu tempo de sofrer, em minutos, estavam todos em casa, fraldas, remédios, mamadeiras, crianças e o marido.
Ela serviu o jantar, parece que nunca mais tocaram no assunto, nem o marido foi experimentar o cardápio fora de casa.
Essa história foi amplamente divulgada na época, essa moça era aclamada heroína de toda uma geração. Eu ouvi essa história, milhares de vezes, atrás da porta, apesar de ser avisado: "vai brincar, essa é uma conversa de adulto".
Que é conversa de adulto, sem dúvida nenhuma, mas ouvindo essa história desde pequenininha, é discurso adotado, avisado!
(Ilustração : Norman Rockwell / Montagem)