terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Heranças




Hoje em dia fazer a barra de uma calça é coisa muito simples, além das lojas disponibilizarem o serviço, em qualquer esquina, existe um estabelecimento especializado em barras, aqui no meu bairro tem um monte, mas nem sempre foi assim, houve um tempo que era preciso saber fazer barra.
Minha mãe fazia barras, não muitas, mas fazia, na verdade eu nem sei muito bem como essa parte era resolvida na minha casa, usei muita fita crepe e outros truques para resolver a questão, as barras passaram a fazer parte da minha vida em 1984.
Certa vez, quando eu ainda namorava o maridão, um dia ele me aparece pedindo que eu fizesse a barra de uma calça, achei o pedido a coisa mais esquisita do mundo, mas achei que apesar de nunca ter feito tal coisa, não devia ter mistério, não podia ser a coisa mais difícil do mundo.
Ele vestiu a calça, eu marquei a altura da barra, pus a mão na massa... e descobri que fazer uma barra tinha lá sua ciência... mas na época eu não me apertei, fiz do jeito que deu!
O maridão não gostou do resultado e contou para a mãe dele que eu não sabia costurar! Eu só sabia pregar botão, apenas costura de sobrevivência. Eu não sabia, minha sogra era professora de costura! Na hora que ela viu o serviço, pegou a caixa de costura, mandou o maridão tirar as calças, sentou-se ao meu lado, desmanchou tudo que eu tinha feito e começou a explicar que para costurar a barra é preciso fazer o "ponto  folha", que a linha não deve ser muito comprida e o nó em apenas uma ponta, dali a pouco ela já tinha feito um lado da barra, como uma boa professora me passou a agulha, era minha vez de experimentar! No começo foi um pouco complicado, mas logo entendi o mecanismo da coisa!
Assim aprendi mais um de meus dotes, hoje só faço barras em caráter de emergência, ontem precisei desenterrar meus apetrechos, por isso lembrei-me da minha sogra e fiquei pensando que muitas vezes não percebemos que recebemos heranças não materiais de pessoas diversas. 
Aprendi a fazer barra com a minha sogra, manobrar o carro com meu avô, no final das contas somos o resultado de nossas experiências, dos contatos que vamos estabelecendo ao longo da vida e só depende de nós mesmos celebrar cada uma dessas heranças e manter a tradição, transmitir o conhecimento para outras pessoas.

Um comentário:

Luma Rosa disse...

Paola, sortuda você que teve pessoas para lhe ensinar. Hoje em dia ninguém mais tem tempo ou paciência, pagam para ter ou deixam para lá.
Essa boa vontade que teve a sua sogra, também teve você na tentativa de fazer a barra da calça do seu futuro marido. Isso se chama carinho! E quantas vezes exercemos o carinho durante os nossos dias sem que este seja reconhecido? Que o digam as donas de casas que muitas vezes não têm reconhecimento do seu trabalho.
Bom fim de semana! Beijus,