sábado, 14 de janeiro de 2012

O lugar das memória

Outro dia, conversando com um amigo descobri que o acervo  de fotos da minha família é considerado histórico, consistente, temos uma coleção com significado (ainda podemos "legendar" as fotos) respeitável.
Durante muito tempo esses álbuns ficaram esquecidos, quase que escondidos em prateleiras inacessíveis dentro de armários escuros, de repente, por motivos diversos esse material voltou à luz.
Esse amigo é artista plástico e antropólogo que acabou de defender sua tese de mestrado baseado numa coleção de fotos de uma pessoa que nasceu em São Paulo por volta de 1920.
Nessa conversa encontrei a resposta de uma velha pergunta que me faço há muito tempo, fotos de uma coleção pessoal são significativas para seu dono, seus filhos até quem sabe seus netos, depois disso viram velharia, apesar de muita gente gostar de fotos antigas quando ela perdem o significado a tendência é que sejam descartadas, esse amigo me contou que há museus que aceitam esse tipo de doação, principalmente quando o material está "legendado".
O material é memória, mas aquilo que ficou com as pessoas, o etéreo é a lembrança.
No sábado os Artistas Viajantes em mais uma expedição, visitou a Cidade dos Velhinhos, lugar interessante. Foi construído na década de 1960, é formado por vários "pavilhões" onde cada um têm seu próprio quarto, com banheiro, numa construção com jardim interno e área comum. Nesse lugar, também foi acolhido um grupo de refugiados russos que chegou ao Brasil por volta de 1965.
Vi muitas pessoas nesse lugar, uns mais ativos, outros já bem debilitados, de qualquer maneira  a sensação foi de de tempo passado, memórias perdidas.
Ao entrar em um pavilhão desativado encontramos ruínas e muito mato, em um dos quartos muitas cadeiras de rodas, doação recebida de um grupo de empresários que adora fazer caridade, mas nem sempre entende que as necessidades das entidades vai além de sopa em lata e cadeiras de rodas, aluns caixotes bem deteriorados com papéis em decomposição.
Com a entrada naquele prédio ganhei uma pulga atrás da minha orelha que fez com que eu ficasse um tanto desconfiada das verdadeiras intensões da chefona do lugar.
Ao conversar com a responsável  fiquei pasma, queríamos saber a História do lugar, seu envolvimento com o bairro, mas nada disso estava na pauta que ela havia definido, não existe integração, não existe interesse de estabelecer qualquer vínculo, estão todos asilados, o objetivo dela, a chefona, era estritamente financeiro, ela queria que nós pintássemos o muro externo do imóvel com motivos determinados por ela.
Fiquei decepcionada, ela só viu em nós a possibilidade de tirar proveito de nossa boa-fé, sem nenhuma contra-partida, definitivamente esse nunca foi nossa meta!
Ao sair de lá a questão da diferença entre memórias e lembranças s e acentuou ainda mais....
Naqueles álbuns gastos que ainda guardamos com tantas reverencias, existem histórias que jamis serão recuperadas, as fotos de pessoas que meus pais não conheceram ficam no departamento do esquecimento, na certeza que antigamente as pessoas presenteavam amigos com fotos tiradas em fotógrafos profissionais, talvez seja a explicação para tantas cópias iguais guadadas nos fundos dos álbuns.
Estou convencida cada vez que pegamos os álbuns para olhar as fotos e mostrar para as crianças a cara dos nossos antepassados, estamos perpetuando um pouquinho mais a existência deles, mas ainda fica o desafio, transformar as lembranças em memórias!
(esse post começou a ser escrito em outubro, estava esquecido.... foi resgatado durante a "limpeza anua" que estou fazendo)

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