Os três maridos

- Matilde, você que é feliz, acertou o marido de primeira!
- Ihhhh, já sei, Adelaide, com que cliente que você anda se preocupando?
- Estão bonitos os pimentões.
- Hoje não vou levar, não!
- Pobrezinha, aquela que se mudou para outra cidade e vem para cá uma vez por semana!
- Pobrezinha ela não é, né, Adelaide?
- Matilde, na mocidade teve só um namorado, se casou cedo, teve um filho, o casamento esfriou, os dois resolveram se separar. Ela conheceu outro cara, se apaixonou, ele morava fora, ela gostou da ideia, se mudou, de mala e cuia, levou o filho, teve outro filho, se refez.
- Que sorte a dela!
- Pois é, tudo estava indo muito bem, até que o primeiro marido ficou doente, não tinha quem quisesse cuidar dele, nem a atual mulher, ela, se compadeceu, levou o ex-marido para morar na casa dela.
- Dona Flor, essa sua cliente!
- Pois é! O primeiro marido doente morava na edícula no fundo do quintal. O segundo marido ficou enciumadíssimo, foi embora.
- Enciumado de um moribundo?
- De um moribundo, mas ela que é bem resolvida acabou arrumando outro, dessa vez não haveria ciumeira, afinal quando o terceiro chegou, o circo já estava armado.
- Ela é descolada, hein?
- Descolada e generosa, imagina que o segundo marido perdeu o emprego e não tinha onde morar, pediu para voltar para casa! Veja se é possível, agora ela com a casa repleta de gente, os dois filhos, que já são dois homens feitos, e os três maridos.... Ela me disse que agora, quando vem para dar aulas na faculdade, acaba ficando um dia a mais, está cansada, me contou que alugou um apartamento, assim quando vem para cá, acaba trazendo o atual e assim podem ter uns momentos de paz.
- Vou levar um pouco de limão, essas limas-da-Pérsia, três maçãs e aquela melancia.
- Você não vai conseguir carregar tudo!
- Acho que vou alugar um apartamento!
- Prá que, Matilde?
-Para eu ficar lá quando estiver cansada! Com vontade de ficar quieta!
- E você precisa disso?
- Preciso sim, vou e deixo o Lorival sentir saudade de minzinha e ver como eu faço falta na vida dele.
- Você anda muito ranzinza! Vamos, lá em casa que eu vou passar um café!
(a imagem foi retirada daqui, ó)