Minha avó, a eterna mocinha, chamava-se Irma, muito de sua vida ficou registrado em velhas fotografias, nas histórias que ela nos contou, nas história que nos foram contadas por outras pessoas e por alguns pertences, inusitados, eu acho.
Quando ficou viúva precisou se desfazer de muitas de suas coisas, mudou-se para um apartamento, espaçoso, mas muito menor que sua casa, que no quintal não tinha piscina, balanço ou fonte, como gostam os italianos, no quintal tinha um quarador!
(Registro histórico - antigamente, quando os lençóis eram brancos, feitos de algodão ou linho, lavar a roupa era uma atividade um tanto complicada, não bastava enfiar na máquina de lavar, nem sei se existia máquina de lavar, era preciso esfregar, ferver, quarar e depois enxaguar, quem sabe esfregar de novo.
Para tirar as manchas da roupa branca, era preciso deixá-la ao sol, muita gente esticava os lençóis e roupas brancas no chão, em cima de um arbusto, em qualquer lugar que batesse sol.
Na casa da minha avó tinha um quarador. Acho que a lembrança que tenho desse quarador e dela supervisionando o desaparecimento das manchas, é uma alucinação, não tenho certeza, sei que meu avô mandou construir o quarador pois assim ficava mais fácil cuidar da roupa. Um capricho só.).
Minha avó, em sua mudança, manteve em sua "arca" seus lençóis de linho, suas toalhas de mesa da Ilha da Madeira, talheres, louça, apetrechos de cozinha e muito mais, além dos móveis, bibelôs, álbuns de fotografia, entre esses álbuns, sobreviveu ao tempo um livrinho de capa preta, um caderno de recordações - esse era um costume entre as moças, ter um caderno onde amigas, amigos e parentes deixavam algumas palavras de amizade, esperança, essas coisas que umas pessoas desejam para outras (costume mais antigo que o Orkut!!!!!).
Esse livrinho sempre esteve entre nós, já conheço de velha data, eu também deixei minha mensagem para ela.
Minha avó era canceriana, e segundo consta, os cancerianos são pessoas muito ligadas à família, gostam de se sentir queridos, e apegados às coisas, principalmente objetos com uma carga afetiva, ela era assim, apegada às pessoas e às coisas, guardou o tal livrinho.
Sempre gostei de folhear suas páginas amareladas, cheia de nódoas, com diversas caligrafias diferentes, todas caprichadas, algumas com desenhos de folhagens, flores e até paisagens.
Foi outro dia que reparei, achei interessante, muitos escritos são cópias de poemas, alguns de Guilherme de Almeida, alguns mórbidos demais, muito sofrimento e dor nas tais poesias.
Será naquele tempo as pessoas precisavam mostrar um pouco de profundidade, que não era bonito demonstrar muita alegria, as pessoas com certeza eram muito mais contidas, havia um código de conduta muito rígido, difícil de ser levado a cabo.
Imagino que toda a revolução de comportamento que veio a partir daí seja consequência de um desgaste emocional coletivo, uma saturação.
Percebia isso, quando criança, nas atitudes, no discurso de alguns adultos, aqueles que resolveram encarar a possibilidade de ser livre, romper com esses velhos preceitos.
Talvez a sociedade, percebendo o quanto era difícil manter as aparências foi se liberando, liberando, se libertando de tantas amarras, principalmente o fatídico "o que os outros vão pensar?", quando foi possível pensar de outra maneira a sociedade mudou, e continua mudando, pena que em alguns segmentos as mudanças não tenham ocorrido de verdade, ou melhor, ainda existem pessoas presas ao passado, ressentidas da perda de suas vantagens que ficam tentando manter o "velho-regime".
Besteira, as mudanças já ocorreram, não tem mais volta, só precisamos continuar a explicar aos que ainda não entenderam isso!
Eu nasci no tempo certo! Imagine só se eu podia viver preocupada com a opinião dos outros? Era só o que me faltava!
Quando ficou viúva precisou se desfazer de muitas de suas coisas, mudou-se para um apartamento, espaçoso, mas muito menor que sua casa, que no quintal não tinha piscina, balanço ou fonte, como gostam os italianos, no quintal tinha um quarador!
(Registro histórico - antigamente, quando os lençóis eram brancos, feitos de algodão ou linho, lavar a roupa era uma atividade um tanto complicada, não bastava enfiar na máquina de lavar, nem sei se existia máquina de lavar, era preciso esfregar, ferver, quarar e depois enxaguar, quem sabe esfregar de novo.
Para tirar as manchas da roupa branca, era preciso deixá-la ao sol, muita gente esticava os lençóis e roupas brancas no chão, em cima de um arbusto, em qualquer lugar que batesse sol.
Na casa da minha avó tinha um quarador. Acho que a lembrança que tenho desse quarador e dela supervisionando o desaparecimento das manchas, é uma alucinação, não tenho certeza, sei que meu avô mandou construir o quarador pois assim ficava mais fácil cuidar da roupa. Um capricho só.).
Minha avó, em sua mudança, manteve em sua "arca" seus lençóis de linho, suas toalhas de mesa da Ilha da Madeira, talheres, louça, apetrechos de cozinha e muito mais, além dos móveis, bibelôs, álbuns de fotografia, entre esses álbuns, sobreviveu ao tempo um livrinho de capa preta, um caderno de recordações - esse era um costume entre as moças, ter um caderno onde amigas, amigos e parentes deixavam algumas palavras de amizade, esperança, essas coisas que umas pessoas desejam para outras (costume mais antigo que o Orkut!!!!!).
Esse livrinho sempre esteve entre nós, já conheço de velha data, eu também deixei minha mensagem para ela.
Minha avó era canceriana, e segundo consta, os cancerianos são pessoas muito ligadas à família, gostam de se sentir queridos, e apegados às coisas, principalmente objetos com uma carga afetiva, ela era assim, apegada às pessoas e às coisas, guardou o tal livrinho.
Sempre gostei de folhear suas páginas amareladas, cheia de nódoas, com diversas caligrafias diferentes, todas caprichadas, algumas com desenhos de folhagens, flores e até paisagens.
Foi outro dia que reparei, achei interessante, muitos escritos são cópias de poemas, alguns de Guilherme de Almeida, alguns mórbidos demais, muito sofrimento e dor nas tais poesias.
Será naquele tempo as pessoas precisavam mostrar um pouco de profundidade, que não era bonito demonstrar muita alegria, as pessoas com certeza eram muito mais contidas, havia um código de conduta muito rígido, difícil de ser levado a cabo.
Imagino que toda a revolução de comportamento que veio a partir daí seja consequência de um desgaste emocional coletivo, uma saturação.
Percebia isso, quando criança, nas atitudes, no discurso de alguns adultos, aqueles que resolveram encarar a possibilidade de ser livre, romper com esses velhos preceitos.
Talvez a sociedade, percebendo o quanto era difícil manter as aparências foi se liberando, liberando, se libertando de tantas amarras, principalmente o fatídico "o que os outros vão pensar?", quando foi possível pensar de outra maneira a sociedade mudou, e continua mudando, pena que em alguns segmentos as mudanças não tenham ocorrido de verdade, ou melhor, ainda existem pessoas presas ao passado, ressentidas da perda de suas vantagens que ficam tentando manter o "velho-regime".
Besteira, as mudanças já ocorreram, não tem mais volta, só precisamos continuar a explicar aos que ainda não entenderam isso!
Eu nasci no tempo certo! Imagine só se eu podia viver preocupada com a opinião dos outros? Era só o que me faltava!
3 comentários:
Olá Paola...Bom dia !
Segui seu caminho através do blog da Dinorah, que passou a ser minha "parceira", tendo colocado textos dela lá em meu cantinho do Irmão das Estrelas...
Li esta página e adorei, porquanto gosto das pessoas que expõe seu dia-a-dia e também veneram lembranças boas...até receita tem !!!!! hehehe
Um beijo fraterno...
ps. aparecendo para visita, será uma honra...
http://imaregna.blogspot.com
Fernando,
Essa sou eu! Que loucura!
Obrigada pela visita!
Vou até lá!
bj
PAola
Paola,
Este texto está muito bom! Lembrei das roupas quarando ao sol,senti saudades. Adorei a comparação do álbum de recordações - eu tenho um, com capa de couro e tudo! -com o orkut, achei uma sacada incrivelmente inteligente.
Um beijo e, seguimos mudando!
Dinorah
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