quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Castelinho


Terça-feira fiquei com vontade de conversar com uma determinada pessoa, com quem eu não falava há mais de 15 anos, corri até o Facebook, escrevi o nome dela, logo encontrei seu perfil, mandei uma mensagem e descobri, ela mora bem pertinho! Liguei e combinamos um encontro no dia seguinte.
Quando eu era professora lá no Galileu, foi minha assessora (*) de Artes, foi com ela que eu aprendi umas coisas bacanas que eu sei e uso até hoje. Todo meu conhecimento prático de Artes foi transformado pela minha convivência e trabalho com ela. Quando eu propus aos meus alunos a pintura do Outdoor, ela foi minha mentora para essa e outras tantas experiências artísticas pedagógicas...
No dia seguinte, quando eu propunha um encontro, ela tinha um compromisso, e me convidou para conhecer um projeto em que está envolvida. Aceitei.
Na hora marcada, passei em sua casa... e lá fomos nós em direção ao centro da cidade.
Fui apresentada a um projeto de uma Oficina de Teatro para pessoas em risco social.
O grupo se encontra uma vez por semana em uma sala do Clube das Mães do Brasil, uma ONG que funciona no castelinho na rua Apa, 263.
O Castelinho é um prédio histórico cercado de mistério, foi a residência de uma família que teve um triste fim, por falta de herdeiros o prédio passou a ser propriedade da União Federal, ficou abandonado por muitos anos, até que Maria Eulina, transformou a própria história e fundou a ONG.
A História é comovente, fiquei sensibilizada com tudo que vi e ouvi.
A proposta do Teatro é tão emocionante quanto, especialmente para mim.
Naquela sala na sede da ONG, vi minha amiga colocando em prática a mesma "técnica" de jogo dramático que aplicava com as crianças lá na escola em que trabalhávamos, vi adultos entrando no jogo de corpo e alma.
Enquanto estávamos lá recebemos a notícia que alguns dos integrantes do grupo não voltariam, haviam conseguido um emprego, com carteira assinada! Antes do final do encontro, duas das sortudas apareceram, dizendo que vão dar um jeito de continuar no grupo.
Fiquei imaginando, a importância dessa atividade para essas pessoas, não é difícil adivinhar que essa oportunidade fortalece a auto-estima, através do teatro é possível falar, agir, experimentar, quando a atividade é conduzida com delicadeza, por uma pessoa que respeita cada um dos participantes (no sentido de conseguir olhar para o outro, aceitando as diferenças e particularidades sem querer impor valores e normas externas) , tudo ganha outro significado, ganha uma consistência, uma força, que não é possível contestar.
Depois do aquecimento, com exercícios de massagem, alongamento e relaxamento, foi proposto um "jogo de teatro", e é durante esse jogo que os participantes, através da atuação, vivenciam experiências sociais, regras, valores, mitos, verdades, compartilhando os saberes, as angústias latentes de cada um .
Ao terminar a atividade fomos conhecer as instalações da ONG. Além do prédio onde funcionam as oficinas, o próprio castelinho.
O teatro é um meio de atingir as pessoas, nesse caso, um meio de reintegrar indivíduos, sinto que essa experiência é muito rica, afinal é através dela que pessoas que estão excluídas, podem retomar as rédeas do seu próprio destino, apartir das reflexões "práticas"que essa proposta apresenta, a reflexão coletiva. Gosto da idéia da cletividade resgatando a dignidade pessoal, cada um podendo ver através outro um caminho para sua transformação.

(*) Assessora Pedagógia, uma especialista em uma determinada área do conhecimento, orientava a professora polivalente nas dinâmicas, propondo atividades específicas.

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