segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Conversa de Adulto


"Paola, vai brincar lá fora, isso é conversa de adulto, vai!"
A pior ordem que eu poderia receber , quando criança, com certeza era essa, talvez tenha sido a ordem que eu mais tenha "obedecido" quando eu era criança.
Sair eu saia, mas ia me enfurnando em algum esconderijo em que eu pudesse acompanhar as tais conversas de adulto.
Normalmente, só era possível escutar chiados, sussurros, cochichos sem nenhuma essência, as vozes, muitas vezes, sumiam, pouco se entendia o barato era tentar adivinhar, claro que o repertório infantil é parco para a grandiosidade da proposta.
Naquele tempo, ainda era cultivado um costume já quase esquecido, o das visitas, as amigas, as parentes, mesmo que distantes, cultivavam essa atividade, no lugar da academia, do shopping, as mulheres, nos dias de semana, pela tarde se visitavam, mantinham o contato, cultivavam as amizades, as conversas rolavam entre as amenidades cotidianas, culinária, até as novidades mais picantes, eram contadas entre uma xícara de chá e um biscoitinho de nata, tudo feito em casa, as crianças em volta, no jardim, no quintal.
Foi numa dessas tardes que ouvi minha mãe contando a melhor de todas as receitas caseiras que eu conheço, essa eu estava atrás de algum sofá, eu lembro bem! Outras histórias me marcaram de uma forma mais profunda, casos de doenças e acidentes, dores e desilusões, tudo era motivo para atenção.
Minha tia veio passar uns dias com meus pais, lembrei que foi com ela que fui pela primeira vez ao teatro, assistimos "A Dona Baratinha" no Teatro Gazeta, claro que lembramos do Teatro Bianchini, da minha avó.
Contei para ela as minhas lembranças do tempo em que ela ficou viúva, percebi que, naquele dia, ouvi mais coisas que deveria, era informação demais, com cinco anos, eu nem sabia que fazer com aquilo.
Ai é que começa a conversa de adulto, todo mundo sabe que eu sou prima de mim mesma, por isso que muitas histórias antigas são um pouco misturadas, é uma coisa muito esquisita, difícil de explicar, adoro quando minha mãe e minha tia se juntam e começam a contar algumas histórias, hoje eu vejo que as tais conversas de adulto nem eram tão picantes quanto minha ingenuidade supunha.
Sempre soube do parentesco, por isso achava que minhas duas avós deveriam ser "unha-e-carne", coisa que não eram, rolava uma ciumeira básica, não tínhamos telefone, a única oportunidade de falar à vontade era quando íamos nas casas das vovós, e para quem eu ligava para bater-papo? Para a outra avó! Claro, eram os únicos número que eu sabia! E quando eu ligava, elas, principalmente essa avó pianista, sabia onde eu estava. Finalmente , hoje, eu descobri o motivo da tal rusga.
Uma história do fundo do baú, sem a menor dúvida, minha avó, aquela que saltava da plataforma de dez metros, estudava com a irmã do meu avô, aquele do JK, além da escola, também no Conservatório, uma tocava piano, a outra violino, vejam só, tinham uma amiga cujo cabelo era todo cacheado que cantava, e além disso encantada pelo meu avô, que nem percebia a existência da moçoila. Minha avó, nutria uma paixão pelo amigo do meu avô, eu achava isso a coisa mais engraçada do mundo, minha avó, falando da tal paixão adolescente.
A moçoila dos cabelos cacheados, disse por ai que o noivo tinha sido roubado!
Segundo meu avô ele nem sabia que tinha sido prometido, pela irmã a quem quer que fosse!
Agora estou aqui fazendo uma contabilidade, amanhã tenho que tirar umas histórias a limpo, vou aproveitar que as duas estão dispostas e descobrir a veracidade de certos causos!

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