sexta-feira, 5 de junho de 2009

O trigo e o joio

Entre tantas coisas que eu faço na vida, ler é uma que faço com muito prazer. Leio, leio muito e sou muito crítica, lá no Orkut faço parte de uma comunidade que se chama "Eu odeio escritor bagaceira". Entre as muitas discussões acaloradas, um membro jogou a seguinte pergunta no fórum:
"Por favor alguem me responda: Não consigo entender. Todos aqui falam de bagaceiras mas não falam o que faz de um livro uma bagaça. Para mim isto está mais parecendo questão de gosto."
Quem fez essa pergunta é também leitor desse blog, então aproveitei para escrever esse post.
Me senti na obrigação de explicar, bem explicadinho, o que, no meu modo de ver e ler é um escritor bagaceira. Por ter exercido o Magistério durante muitos anos, gosto de ilustrar minhas ideias, é o costume de usar lousa, giz, mapas e outros artifícios.

O mundo está cheio de livros, livros bons, livros ruins, livros marcantes, livros extasiantes,livros rebuscados, livros vazios, livros pretensiosos, alguns livros têm qualidades literárias incontestáveis, outros são apenas medíocres. Na minha opinião não dá para qualificar um autor por apenas um livro, gosto de ampliar o horizonte, ler pelo menos dois títulos do mesmo autor, apesar de que em casos de bagaceira convicto, um é o suficiente.
Por ser uma leitora entusiasmada e compulsiva, algumas vezes, preciso de um distanciamento para avaliar melhor, mas de forma geral, meus critérios podem ser aplicados e servem para uma boa avaliação.
A indústria editorial, normalmente, aposta suas fichas em títulos "recreativo", livros para distração, mesmo assim, acho que há qualidades que devem estar presentes, sempre.
Uma característica que me incomoda muito é o repertório restrito, num livro, qualquer livro, as palavras devem ser usadas em profusão, no entanto com parcimônia, ou seja, o maior número possível com o menor número de repetições cabíveis, ou seja, mesmo que a palavra ou expressão seja uma coisa maravilhosa, ela só pode ser usada uma ou duas vezes, e a repeticão só pode acontecer, se for estritamente necessária:
Em "Os catadores de conchas" da Rosemunde Pintcher, um livro de 600 páginas da mais pura encheção de linguiça, ela usa a expressão : "o cardigã puído" três milhões de vezes, sem a menor necessidade, no caso, a roupa que a personagem usava era o menor de todos os detalhes.
Mário Puzzo, outro mestre Bagaceira, em "Os Bórgias", exagera, nesse caso com a tal da "poltrona predileta", é a história de um papa corrupto, que tem filhos, que zanza para cima e para baixo, viaja por todo canto, mas na hora do vamos ver a tal poltrona está em Roma, Amsterdã ou em qualquer outra parte, poltrona aparece demais, a história se perde.
Há as histórias sem sentido, sem razão de ser, por exemplo, "O Jogo do Anjo", o Carlos Zaflon quis aproveitar o sucesso de "A sombra do vento", que cumpre bem um papel, mas ao reviver o cemitério dos livros esquecidos, o autor se perdeu, o livro não fecha.
Também há uma classe de livros oportunistas, querem que o leitor sinta-se culpado com as mazelas do mundo, atualmente, o Afeganistão, ícone máximo dessa classe é o "Livreiro de Cabul, parece bom, de repente a ficha cai, o livro é tão preconceituoso com a cultura relatada que o leitor acaba percebendo que está sendo enganado, o outro lado, nessa mesma classe, está Neve, de Osman PAmuk, ele ganhou o Nobel, mas o livro é vazio, o autor fica dando tantas piruetas linguística que se perde que no final ninguém entende a razão da morte do infeliz, ih, contei!
Há editoras bagaceiras, e esse caso deu a maior briga lá no Orkut, Todos os livros do Saramago, aqui no Brasil, são editados com uma capa, sempre com o mesmo layout, de repente, na época do lançamento do filme, lançaram o livro com uma capa diferente, cenas do filme, como assim? Livro ilustrado?
Paulo Coelho é um bagaceira premiado,escreve as maiores abobrinhas, sempre recheadas de frases de efeito, como se ele estivesse revelando grande sabedoria, no final está menosprezando a inteligência do leitor.
Alguns escritores passam por fases bagaceiras, mas outros são bagaceiras convictos!
Nem sempre é fácil separar o joio do trigo, eu que não leio orelha de livro nenhum, muitas vezes sou pega de surpresa, mas uma coisa eu já aprendi, normalmente os livros muito festejados, muito aclamados, costumam conter textos pobres e simplórios, o bom é que se for a vontade do leitor, ele pode abandonar, sumir ou queimar o livro, e tudo continua numa boa.

6 comentários:

Unknown disse...

Poxa.... eu amei "livreiro de cabul" e "neve". Bom... gosto é gosto....
Um escritor que nao consigo engolir é Garcia Marquez....Poxa... eu admito que o cara é inteligente, esforçado, culto.. mas a leitura e a cultura nao me convecem... nao me satifaz....

Anônimo disse...

Senti isso que vc diz que sente em relacnao ao GArcia MArquez quando li o Livreiro e o Neve, como se quisessem me enganar, não senti com "O caçador de pipas"nem com "A moça do brinco de pérola".
É como se existisse um exagero nas letras, uma coisa forçada.
Tá bom que é uma questão de gosto, mas tem coisa que é meio falso.
Nem vou me referir ao Livreiro, esse não tem salvação, mas me explica, o q vc gostou no Neve? Nem espremendo consigo achar alguma coisa boa, vc disse que o " Meu nome é vermelho" é bom, então vai ver que eu estava enganada, então me diz, pq vc gostou?
Beijo

PAola

Alfredo disse...

Neve é um romance psicologico.. diria que é apenas a mente em relação do turco k.a. sobre a (não ?) existencia de deus, afinal ele se sentia um europeu, sendo que a Turquia que é mais asiatica do europeia (ela ta tentando entrar na Uniao Europeia). Eu diria que Neve tem elementos biograficos (k.a. certamente é o alto ego de Pamuk). Eu diria que Pamuk constroi frases lindissimas sobre Deus mesmo sendo ateu (e duvidamos em certa forma se é verdade). Adoro a cena do teatro, o fato de tirar o veu islamico e mostrar o cabelo, uma coisa tao banal (e altamente valorizado) aqui mas pornografico no oriente médio. Em relação a "Meu nome é vermelho" é um romance "policial" porem medieval com conflito entre cultura do ocidente e oriente, que é o ponto principal de toda a obra do Pamuk. Aliais, este livro é bem pincelado com ironias e um humor leve. Eu tb ja li "o castelo branco" , onde ele fala da identidade de qualquer pessoa, de qualquer eu. Talvez vc seja uma pessoa livre de preconceitos e quando vê alguém questionando a cultura do próprio lugar e vê que está "errado", isso te choca e vc acha é um absurdo, causando desinteresse. Vc não está enganada. Talvez seja uma coisa de feeling. Eu não me identifico com Garcia Marquez, acho uma bizarrice tao sem graça o livro "100 anos de solidao", o único que eu li.... mas eu reconheço que as obras dele tem um alto valor, sao bem escritas e tem capitulos bem interessante, mas o conjunto não me chama atençao, nao faz o meu estilo.

vera maria disse...

Muito interessante sua análise dos bagaceiras, paola, aliás o nome bagaceiras é ótimo. Olha só, eu vou dar uma passada na beta de aquarius na segunda, se encontrar o onetti por lá eu compro e mando pelo correio, quer?
um abraço,
clara

Paola disse...

Asnalfa<
Eu vou ler "Meu nome é Vermelho", afinal posso ser tudo, mens preconceituosa, nnao quero passar por uma leitora bagaceira, afinal isso existe, também!

Paola disse...

Clara,
Eu quero sim!

Beijo

PAola