sexta-feira, 3 de abril de 2009

Arte na Calçada




Quando eu cheguei na entidade, que tem como proposta disseminar arte e inclusão social, a aula já ia adiantada, a proposta era uma pintura com tintas naturais, feitas pelos próprios alunos, Nanquim com carvão, tintas feitas de espinafre, beterraba, açafrão*, em papal de máquina de calcular, tripas compridas. Haviam observado o Apolo, um caramujo super desenvolvido, e as tiras eram uma referencia ao andar do Apolo.
Com as tripas pintadas, houve uma pausa para o lanche e uma conversa sobre a atividade. A professora, então, chamou todo mundo para uma "passeio", munidos de pincéis e tintas, papel e tudo, todos sairam para procurar um lugar na rua. Na calçada, embaixo de uma enorme árvore, esticou um papel muito comprido, agora a ideia era fazer alguma coisa bem solta, coletivo, um interferindo no trabalho do outro.
Conforme a coisa foi acontecendo no papel, outras coisas muito interessantes aconteciam em volta, os carros passavam e os passageiros ficavam olhando, que seria aquilo? Um monte de adultos pintando na calçada? Como é possível uma coisa dessas? Uma moça estava entrando num carro estacionado, a professora convidou, ela veio e conversou. Ela, uma bióloga, contou sua experiência com cultura e natureza. Outros carros passaram.
Eu também participei da pintura, pensava em fazer movimentos bem compridos, o caracol havia me inspirado, fiz muitas espirais, as tintas perfumadas iam se misturando e apareciam novas cores. As pinceladas também iam se misturando, aos poucos aquilo tudo estava colorido.
Como havia a proposta de usar toda a extensão do papel eu ia pintando ao longo do espaço, quando voltava, tudo estava diferente, outros estímulos para outros movimentos, outras ações, o vento trouxe algumas folhas, a textura do chão ficou marcada na folha.
No final, todas se reuniram para trocar experiências, a professora mostrou o folheto da exposição do Bob Nugen, que está no Tomie Otake e contou que ele pintou de dentro de um barco no amazonas.
O momento foi inusitado, na hora só conseguia pensar na quantidade de coisas que fazemos e ficamos incomodados com a interferência do outro, quando na verdade, as interferências são inevitáveis, temos que entender a riqueza das trocas a tirar proveito delas.
Acho que vou me matricular nesse grupo.
* Para fazer o Nanquim, basta raspar o carvão numa lixa e misturar na água.
Para as tintas de beterraba, espinafre, açafrão, quem sabe cenoura, bate-se a substância no liquidificadir com água, se achar necessário, pode colocar cola na mistura.

Nenhum comentário: