domingo, 22 de março de 2009

Do Fundo do Baú


Ela me contou que a professora levava as alunas para passear no Jardim da Luz, ali brincavam, corriam pelas alamedas arborizadas, remexiam no laguinho com gravetos compridos. A escola fica ali, bem pertinho, elas iam a pé.
Que classe é essa? Quantos anos elas têm? Não sei, são informações perdidas no tempo, ela, (a quinta em pé da direita para a esquerda) já não lembrava dos detalhes, disse ser a foto do Jardim de Infância. A imagem desbotada pelo tempo mistura as feições, já não é possível identificar com clareza quem são essas meninas, se vivas estão beirando os cem anos.
Será que foi arteira como costumava contar? Disse, mais de uma vez, que muitas vezes ficou de castigo depois da aula, ficavam, ela e suas amigas, a outra Irma e a Olga, sentadas na diretoria. Ela, que gostava de azucrinar a diretora, ficava tamborilando os braços da poltrona, dizia que era hora de estudar piano, que sua mãe ficava brava quando ela não chegava na hora! Bem sei!
Anos mais tarde, foi convidade para ser dama-de-honra do casamento da amiga, pelo tanto de gente, pela pompa toda, foi um casamentão. Foi nessa época que conheceu seu futuro marido, ele também esteve no tal casamento, como padrinho? (Ele é o segundo da fila dos varões, ela, de novo a quinta, na fila das damas-de-honra)
Quem é a noiva? Nenhuma das amigas mais íntimas, achava que poderia ser o casamento da outra Irma, mas não é, não. Sei que a menina das alianças é a irmã caçula dela, e o rapazola mais alto, bem na frente é um dos irmãos, o resto da família deve estar nas redondezas, claro.
Finalmente ela casou-se com o moço que estava no tal casamento, na verdade ele se encantou com sua agilidade na piscina, ela nadava, ela saltava da plataforma de 10 metros!
Era mesmo uma pessoa animada, gostava de uma festa, fazia questão de que todas os costumes se cumprissem, ai, outro dia, mexendo em álbuns antigos, encontrei essa foto, aqui ela é a mãe da noiva, fez questão de promover a festa, naquele tempo certas coisas eram feitas em casa, e ela com irmãs e cunhadas deram conta de todos os doces que foram servidos.
Veja como ela está toda contente de braços dados com o futuro genro!
Num instante, algumas fotografias e um punhado de lembranças, são capazes de traçar o perfil de uma pessoa.
Durante a infância convivi intensamente com as minhas avós, as duas, contavam muitas histórias, agora a filha-que-já-pode-votar está fazendo um levantamento de imagens, as coisas vão saindo do baú e eu vou dando asas às minhas memórias afetivas, às histórias que ouvi, aqui e ali.
Engraçado é que quando ela contava as histórias do tempo da escola, eu não conseguia imaginar Dona Irma e Dona Olga diferentes das amigas da minha avó que eu conhecia, me parecia estranho que elas já tivessem sido crianças!

2 comentários:

Anônimo disse...

Que bonito saber que a sua filha tbém compartilhe as histórias da família. Acho tão importante essa passagem de bastão, porque é provável que isso reafirme a sua identidade. A popósito, as senhoras da foto eram muy elegantes!

Vendo as fotos antigas, admiro certos hábitos, como o uso de ternos, de chapéu ou lenço de bolso, por exemplo. As pessoas se vestiam com dignidade, não por vaidade, mas por respeito ao meio, não é mesmo?

Rita de Cássia disse...

Adoro fotos antigas... As pessoas eram tão elegantes, tão decentes!!!
Adoro quando voce tira estas histórias do baú! E parabéns pela filha que já pode votar se interessar em manter vivas as imagens da familia!
Beijos!