quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Medo nosso de cada dia

Dona Irma era uma amiga da minha avó, do tempo da escola, era tão amiga que minha irmã e eu éramos convidadas para viajar com ela, por isso eu ouvi essa história ela tinha medo de gato, medo profundo, antes de entrar na casa de alguém, ela perguntava se lá havia gatos, se sim, ela não entrava. Contou que alguém que queria fazer uma brincadeira, jogou um gato no seu pescoço. Brincadeira tão sem sentido, ainda bem que era amigo...
A Denise, uma vizinha que tem medo de barata, numa noite em que estava sozinha em casa, correu aqui, pediu para eu matar uma barata para ela. Cena dantesca, ela apavorada gritando de medo e eu correndo atrás da cascuda de chinelo na mão, era uma barata esperta, lutou pela vida heroicamente, foi preciso recorrer a um instrumento mais radical, uma vassoura. Venci a luta, ela desceu pela descarga.
No tempo do elevador de gaiola eu tinha muito medo de elevador, aquilo era suplício, a parede passando vagarosamente na sua frente, quando eu era criança, elevador velho, caindo aos pedaços era muito comum aqui na terra da garoa. Esse medo de elevador já me fez subir muita escada por aí. Hoje, eu já superei esse problema, só não subo no elevador do prédio das bijuterias na Ladeira Porto Geral, que continua de gaiola, barulhento e titubeante, vou de escada, é mais rápido e fortalece as pernas.
A Trix, minha amiga de longa data, durante um tempo, tinha medo de dirigir, ela não dirigia e pronto, ela se virava, mas não dirigia. Uma vez, fomos convocadas para fazer um curso na IBM, lá na 23 de Maio. Eu dirigia mas não tinha carro, ela tinha o carro , então combinamos, eu dirigia o carro dela. Durante uma semana eu seria sua motorista, naquele dia, 2 de janeiro de 1995, o céu pretejou e uma chuvarada caiu, a cidade inundou, levamos três horas para chegar em casa. Ela sofreu pra burro, no último dia ela já estava reclamando do meu jeito de dirigir, não é que dali a poucos dias ela perdeu o medo e ganhou o mundo? Voltou a dirigir.
Medo é uma coisa que paraliza, o corpo tem reações físicas diversas, palidez, sudorese, tremedeira, já conheci adulto, que tem medo de bichos voadores, de Papai-Noel, de palhaço e até daquelas fantasias de pelúcia gigante.
Aqui em casa temos todos os tipos de medo, de altura, de bichos voadores, de sangue, e já tivemos , também medo de Papai-Noel.
Aprendi que é preciso ajudar quem sofre de medo, ajuda no sentido buscar a superação, sempre respeitando o limite de cada um. O que não funciona é desqualificar o medo, valorizar o corajoso, isso não ajuda em nada. Às vezes, o melhor é dar tempo ao tempo!
Há medo de tudo...

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