segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Uma menina

Ainda não tinha oito anos.
Trazia para a escola, todo dia, uma boneca bebê, que ficava sob a carteira, dividia a atenção.
Parecia frágil, parecia que tudo aquilo era muito para ela. Pais separados, aquela dor que só quem tem oito anos pode entender.
Naquele ano, parece que as coisas iam entrar nos eixos, a conversa dos pais tinha mudado de tom, o quê era bom de fato, para ela, para todo mundo.
Um dia falou que ia passar o final de semana com o pai, ele estava com uma namorada nova, ele queria que as duas se conhecessem.
Na segunda-feira, ela faltou.
Havia acontecido algo muito triste. No sábado, o pai saiu para alugar um filme, sofreu um acidente. Morreu.
Durante um semana, não foi para a escola, ficaram todos preocupados, querendo fazer algo para amenizar a dor dessa menina. Não havia que fazer.
Quando voltou, entrou na sala da diretora, queria falar, pediu que chamassem a coordenadora e a professora. Sentada numa cadeira, estava lá agradecendo a força que havia recebido de todos. Naquele mês, essa criança amadureceu, amadureceu muito mais que a maioria, muito mais que se pode avaliar.
Muitos anos depois, sua mãe me contou que estava estudando filosofia. Que orgulho!
Foi criticada por um professor que achava que estava perdendo tempo.
Perdendo tempo estava esse infeliz, ele não entendeu nada.
Ficou marcado, talvez a história não seja bem assim, talvez essa seja a minha história para esse evento, mas foi assim que eu senti, é assim que ficou em mim.
Quem estava lá deve se lembrar.

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