Esses dias tenho dado muita fluência para a minha infância, para a história da minha família. Quem vem, como vem, nunca sei, só sei que vem, e pronto, eu escrevo. Minha mãe disse que eu tenho muita imaginação, que nada! Eu não imagino nada, é tudo verdade, a minha verdade, mas verdade!
Hoje, foi ele quem chegou, com aquele jeitão austero, sempre dizendo que não queria incomodar ninguém, mas não cansava de lembrar, deleite puro, que tinha seis filhos, dezessete netos, trinta e cinco bisnetos, e tinham colocado uma "baianinha" para cuidar dele, a Corina, era o nome dela, adorava, ria e achava graça, "que exagero! seu Beppe!"
Ele nunca foi careca, seu cabelo sempre cortado à escovinha, nem mirradinho como outros homens de oitenta e tantos anos como ele, sempre foi grandão, forte, como ele só. Com a idade ele foi deixando de falar português, ainda assim tinha muitas histórias para contar.
Os hábitos nunca o abandonaram, um copo de vinho no almoço, um copo de vinho no jantar, sempre tampava a garrafa depois de servido, para não estragar o vinho? Não, para nãoo cair uma mosca dentro! Depois da refeição uma pitada no cachimbo, antes, prepará-lo com toda calma desse mundo, assim ele viveu até os noventa e seis anos. Mesmo viúvo sempre lembrava de sua sempre amada mulher, com que foi casado sessenta e tantos anos.
Era o caçula de uma família de onze filhos, veio para o Brasil com irmãos mais velhos, para trabalhar na lavoura de café, chegou a São Paulo, foi o tal do medo da febre amarela, ele gostava de contar essas coisas, contava que lá na Itália ele trabalhava no cortume, por isso que aqui no Brasil fabricou chuteiras de couro, para futebol!
Uma vez, eu era bem pequena, minha avó, recem-enviuvada, deu para ele um terno do meu avô, que tinha sido feito para um casamento, estava novinho, os dois eram do mesmo tamanho. Experimentou, achei que era meu avô, e chamei: "Vovô!". Ele ficou chateado com minha confusão, falou nisso para sempre. Como ele era serião nunca achei que fosse uma brincadeira, daquelas que os adultos adoram fazer com as crianças.
Eu gostava muito de ouvir suas histórias, que eram contadas com orgulho de quem fez grandes conquistas. Conforme foi ficando ainda mais velho, se emocionava com mais facilidade, as lembranças brotavam, sentia uma saudade irreversível da Nona e chorava sua falta.
Com seu jeito calmo e grave de falar, foi ele que me ensinou como pronunciar meu nome, ele falava com uma entonação meio rouca, sem puxar muito o "o", mas sem deixar que passasse a ser um "u".
Parece bobagem, bisavô, um parentesco tão distante, mas para mim, uma lembrança constante!
Era o caçula de uma família de onze filhos, veio para o Brasil com irmãos mais velhos, para trabalhar na lavoura de café, chegou a São Paulo, foi o tal do medo da febre amarela, ele gostava de contar essas coisas, contava que lá na Itália ele trabalhava no cortume, por isso que aqui no Brasil fabricou chuteiras de couro, para futebol!
Uma vez, eu era bem pequena, minha avó, recem-enviuvada, deu para ele um terno do meu avô, que tinha sido feito para um casamento, estava novinho, os dois eram do mesmo tamanho. Experimentou, achei que era meu avô, e chamei: "Vovô!". Ele ficou chateado com minha confusão, falou nisso para sempre. Como ele era serião nunca achei que fosse uma brincadeira, daquelas que os adultos adoram fazer com as crianças.
Eu gostava muito de ouvir suas histórias, que eram contadas com orgulho de quem fez grandes conquistas. Conforme foi ficando ainda mais velho, se emocionava com mais facilidade, as lembranças brotavam, sentia uma saudade irreversível da Nona e chorava sua falta.
Com seu jeito calmo e grave de falar, foi ele que me ensinou como pronunciar meu nome, ele falava com uma entonação meio rouca, sem puxar muito o "o", mas sem deixar que passasse a ser um "u".
Parece bobagem, bisavô, um parentesco tão distante, mas para mim, uma lembrança constante!
7 comentários:
Eu tive uma bisa... Era india e me lembro dela sempre com um conjuntinho de mangas compridas, geralmente estamadinho, e um coque amarradinho atrás. seus cabelos eram longos e ela enrolava, enrolava, até ficar aquele coquinho preso por um pente... Lendo seu texto me recordei como era gostoso vê-la, sempre tecendo um tricot, com carinho e esmero!
Beijocas
Sabe, Rita, que essa coisa de falar de avós e bisavós é muito boa, né? PArece que vamos nos resgatando de nós mesmos.
A lembrança deles todos, das nonas, nono, vovô, e vovós, tem sido reconfortante!
Beijos
PAola
É verdade sim, tudo verdade! A gente percebe o quanto sua 'imaginação' é verdadeira, pura lembrança do modo como percebeu as coisas acontecerem.
Essa história ficou ótima, quase vemos seu bisavô aqui na tela.
Abraço!
Sabe Cristina,
estou me empenhando em transformar em escrita essas coisa todas que estão em mim, é um desafio!
Obrigada
PAola
Eu vivo com as recordações dela a mais de 20 anos :o) e até hoje me surpreendo com a clareza de como ela fala sobre coisas antigas e a incrível sensibilidade em relatar fatos de sua infância... bom esta é minha mulher :o)
bjos minha coisinha
Eu não tive o prazer de conhecer meus bisavós, apenas meus avós. Aliás, fui criada por pelos maternos.
Tenho muitas lembranças da minha infância também, muitos causos da minha avó, inclusive narrados no blog, enfim, muitas recordações felizes, mas também melancólicas. E também saem assim aos borbotões. :)
Beijos.
Kenia,
Não tenho nenhum controle, estou deixando fluir.....
É bom saber que com outras pessoas acontece algo assim, aos borbotões!
bjs
PAola
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