quinta-feira, 24 de março de 2011

Deu no Jornal


A Chata-de-Galochas está revoltada, essa semana deu em todos os telejornais, em São Paulo há SETE MILHÕES de automóveis!!!!!!
Ela nem sabe ao certo a razão da revolta, não está revoltada com o número de automóveis, só quem mora em São Paulo entende a razão, uma cidade com 1.522,986 Km2, onde vivem 7.383 habitantes por Km2, em 2010 haviam 11.244.369 habitantes na cidade.
Em São Paulo são licenciados 1200 novos carros por dia.
Sinal de aquecimento econômico, quem tem um dinheirinho a mais compra um carro, ou dois.
Os números impressionam, São Paulo não para, São Paulo não dorme.
A Chata-de-Galochas ficou revoltada com o tom dos telejornais, em todas as reportagens assinalou-se, com bastante insistência que a cidade não suportará o volume de veículos, que em breve haverá apenas um único congestionamento! Como se os culpados pelo caos fossem apenas os motoristas. Ai, a reportagem, tão esperta,- vai perguntar ao especialista, há solução? A resposta é digna de admiração - as pessoas devem morar perto do trabalho. Oi? Acho que o especialista andou tomando água de privada, vamos combinar?
Eu que não sou especialista posso responder de maneira muito mais completa.
Todo mundo já sabe disso, há anos, São Paulo cresceu desordenadamente, nunca houve uma política pública que desse conta do crescimento futuro, aqui os órgãos públicos correm atrás do prejuízo, sempre, desde o início, muitas vezes também não demonstram toda aquela vontade, sempre rola um "por fora", aqui rola, sempre.
Uma cidade que foi fundada na beirada da inundação está fadada ao caos.
São investidos milhões de dinheiros para construir rua, avenida, ponte, tentativas de superar o caos, mas nada é suficiente, aqui "pros meus lados" a divisa da zona oeste e da zona sul, há bairros ricos em terrenos desocupados a espera de novos empreendimentos, que são lançados aos montes, sem dó nem piedade.
Até a Chata-de-Galochas sabe, não adianta reclamar, a cidade cresce, pessoas de todo lado acabam vindo para cá, há oportunidade para todo mundo. Quem pode vai embora, para longe, para o meio do mato, para a beira do rio, para a ponta da praia, mas ao que parece a maioria das pessoas vem para cá em busca de seu lugar ao sol.
É gente demais, a Chata-de-Galochas sabe que a questão é outra, e é simples - onde está o transporte público? Ela bem que gostaria de pegar o metrô ali na esquina e ir ao centro da cidade gastar o rico dinheirinho que o gatão-de-meia-idade, o marido dela, ganha, mas não pode, não tem Metrô, não. Então ela poderia ir de ônibus, como qualquer ser civilizado!
Poderia se em São Paulo os ônibus existissem em quantidade suficiente para atender a população, ela fica revoltada quando vê os ônibus passando, não é possível distinguir os corpos, estão todos comprimidos, humilhante.
Quando a Chata-de-Galochas acorda sobra reclamação para todos os lados!
Ela acha mesmo que o transporte público está sucateado, é moroso e caro, mas ela não deixa passar, a população motorizada também não facilita e ela pergunta - onde vão tantas peruas - para que tantos porta-malas? Para que precisam de tanto espaço?
A vantagem do trânsito de São Paulo é que é democrático, todo mundo fica parado junto, unidos na mesma marcha lenta!
* a foto do ponto de ônibus foi retirada do Fliker do Milton Jung - Foto: Ademir Batista dos Santos, ouvinte-internauta

Um comentário:

O meu pensamento viaja disse...

Paola, esse tipo de democracia eu conheço e passo. Receio que não seja apenas própria de s. Paulo.
Beijo,
Nina