quarta-feira, 23 de setembro de 2009

As fichas continuam caindo

Maternidade, Pablo Picasso
Mais uma vez estou aqui esmiuçando, tentando colocar em perspectiva cada um das minhas sensações, olhando para dentro, para poder entender que se passa por fora, isso tudo só diz respeito à mim e a mais ninguém, eu sou assim, exagerada, tudo em mim está no aumentativo, tudo é no superlativo, tanto as dores quanto as delícias.
Isso é segredo, e talvez devesse continuar a ser, afinal, ao fazer essa revelação, estou assinando o meu atestado de incompetência, minhas limitações ficarão aparentes e todo mundo vai ver o quanto não fui capaz de cumprir uma promessa. Eu, na minha imensa ignorância pensei que poderia ser diferente de tudo que já existiu, perfeita, ou pelo menos muito próximo disso, qualidade total, ISO 9004 no quesito maternidade, aos quinze anos eu havia prometido para mim mesma coisas que eu sempre achei que seriam fáceis de se cumprir.
Havia decidido que eu não cometeria os mesmo erros que meus pais cometeram conosco, aliás eu havia decidido ser a melhor mãe do mundo, uma mãe amiga, presente, em quem os filhos pudessem confiar sempre, equilibrada, sensata, que nunca teria um ataque de nervos, nunca bancaria a louca no meio da rua. Alguém suficientemente atenta, para agir na hora certa, suficientemente sensível para dar tempo suficiente ao tempo, para que possa agir.
Eu havia decido que saberia ler todas as necessidades de meus filhos. Que estaria presente, sendo a o esteio, a rocha inabalável, onde eles poderiam encontrar toda a segurança que necessitariam para se desenvolverem fortes. Mesmo sabendo que frustrações fazem parte do processo sadio de qualquer ser, achava que com um olhar atento fosse possível monitorar isso também, afinal, tenho experiência suficiente para prever e evitar decepções.
Coisas tão fáceis de decidir, tão fáceis de se criticar nos outros. Critiquei tanto a minha mãe, eu achava que ela era insensível, que não olhava para nossos problemas, que não me entendia!
Que surpresa! Isso que eu havia imaginado é impossível, se eu fosse assim eu estaria sufocando meus filhos, estaria vivendo a vida deles por eles.
Tudo isso eu pensei por ter passado uns dias incomodada, alguma coisa estava entalada, não era capaz de descobrir o quê estava me incomodando, olho para um lado, olho para outro, ai tentei de brincar de " quando a filha-que-já-pode-votar tinha a idade que a Caçula tem hoje" e todas as variações possíveis do mesmo tema, quando a mais velha tinha a idade da mais nova hoje, sem dúvida nenhuma as coisas eram muito mais fáceis, acontece que já passou, a moleza daquele tempo e de todos os outros já passaram, hoje estou vivendo intensamente uma mudança, e mudanças para sempre.
Há um milhão e meio de metáforas para esse tipo de mudança, há quem diga que é como fechar a porta, ou seguir o caminho sem olhar para trás. Muitas vezes me pego tentando entender cada um dos meus passos, querendo lembrar como foi que tomei certas decisões, e mais uma surpresa, muitas vezes eu não decidi nada, a vida me levou para lá ou para cá.
Pode parecer que eu esteja me culpando de alguma coisa, muito pelo contrário, estou aqui me perdoando, me eximindo de toda e qualquer culpa que por um instante eu possa ter sentido, tudo que eu fiz e deixei de fazer, tudo que eu decidi e não decidi são páginas viradas que não têm mais volta, águas passadas e pronto!
A ficha caiu outro dia, fiquei surpresa, da mesma maneira que me assustei quando a filha-que-já-pode-votar acordou mais alta que eu, agora a Caçula fica querendo passar lápis no olho para ir para a escola, eles mudaram, eu também tenho que mudar.
Continuo sendo mãe, continuo sendo a mesma, mas agora tenho que fazer diferente, afinal agora todos estão crescidos, isso assusta sim, não por eles, mas por mim, como agir, como pensar, tudo faz parte desse novo momento e a questão é: como a mãe que sou, será a partir daqui?

2 comentários:

Patricia Daltro disse...

Paola,
eu tenho tanto medo de quando for a hora de fazer a mesma constatação que a sua.

Essa cobrança interna nossa, de sermos super-mães, diferentes da outra que um dia foi nossa, mas ainda assim, reflexos do que aprendemos com ela. E um dia, filhos maiores, também fazendo as mesmas promessas que fazemos ao aceitarmos a tarefa da maternidade.

Fico pensando, no momento em que eles, já adultos, fazedores de suas própria escolhas, olhar para a gente, não mais com olhos de "você é tudo para mim" e sim, como apenas, mãe.

Acho que todas as etapas que os filhos passam, temos sempre essa mesma dúvida, "como a mãe que sou, será a partir daqui?"
E acho, que não existem respostas, ou melhor, elas não mudaram, você tentará sempre cumprir as promessas que veio se fazendo em todos esses anos, de ser a melhor possível para elas.

Beijos

Paola disse...

... é isso mesmo!
Eu continuo sempre nessa conversa!
Obrigada por suas observações, é tao bom ter o olhar do outro!
bj

PAola