sábado, 11 de julho de 2009

Diferenças fundamentais

Depois que escrevi sobre as crianças em spas, fiquei tentando imaginar como deixamos a situação chegar à esse ponto, como nossa sociedade não sabe proteger as crianças, se por um lado desvaloriza, pelo outro protege demais, exagera, perde a mão, cria uma geração de monstrinhos insuportáveis.
A infância passa a ser considerada uma momento específico, a Revolução Industrial, até então, o papel da criança na sociedade era secundário, de forma geral as crianças eram introduzidas no trabalho através dos pais e da comunidade, com as tentativas frustradas de introduzir o trabalho infantil nas fábricas, a humanidade foi procurando maneiras de "preparar" as crianças para o futuro de trabalho.
Para as crianças, inventou-se escolas que promovem o desenvolvimento, a socialização, até determinado momento as crianças tiveram suas experiências na escola e também fora dela, era possível sair de casa e ficar longe da tutela do adulto, com o crescimento dos centros urbanos, a intensificação demográfica, tornou-se impossível manter as crianças soltas, passou-se a inventar atividades cada vez mais tuteladas, mais individualizadas, para conter a energia das crianças.
A cidade, de maneira geral, transformou-se profundamente, a invenção dos condomínios, as atividades extra-curriculares, as escolas integrais, mudaram para sempre a cara da infância. As crianças, estão, cada vez mais "aquarteladas" em casa, só saem em companhia de adultos responsáveis, as brincadeiras são sempre mediadas por algum profissional especializado.
Imagino que essa seja a criança que seria levada para uma tarde de cuidados em um spa urbano.
Ninguém levou em conta que há uma diferença enorme entre "brincar de spa", "brincar de cabelereiro" e ir ao spa e ao cabelereiro.
As brincadeiras se caracterizam, em primeiro lugar por suas regras, que só valem, quando todos os envolvidos concordam com elas, sendo que uma delas é a possibilidade de mudança de papéis, "agora eu sou a massagista e você é a cliente", além das regras, o tempo também é fundamental, a brincadeira tem que acabar, já a visita ao centro estético tem uma única regra o "comportamento de mocinha", e é justamente nesse ponto que vai tudo pelas cucuias, afinal até o "comportamento de mocinha" não resiste ao tédio de uma sessão de massagem.
Nossas crianças, estão perdendo a chance de se socializar, de estabelecer vínculos por si mesmas, estão sempre dependentes do adulto, adulto esse que, nem sempre percebe a criança como um ser com necessidades próprias.
As previsões são péssimas, assim como as atitudes ecológicas que todo mundo gosta de anunciar, há que haver uma campanha para a proteção da infância, já existem pessoas preocupadas com isso, mas é sempre bom enfatizar a situação.
No meu ponto de vista, não é nada saudável permitir que as crianças fiquem por períodos prolongados na frente da televisão e do computador, mesmo que numa programação apropriada, eis aqui mais uma daquelas mentiras cômodas, afinal é exatamente durante essas atrações que as crianças ficam expostas à uma quantidade imensa de propaganda.

2 comentários:

Ana R. disse...

Criança é coisa séria, assim como idoso também. Mas estamos a léguas de distância desse entendimento. Quem sabe um dia, uma dessas redes sociais possa servir de instrumento para reunir um bom punhado de gente que bote o bloco na rua pela educação de qualidade....

Paola disse...

Ana,
Espero profundamente!

Bj

PAola