Tumitinhas

Mais uma para série "sempre pensei!"
Assim como as vacas instaladas pela cidade eram inusitadas, o pensamento livre das crianças também.
A primeira vítima humana do mal da vaca-louca aconteceu em 1995, durante muito tempo esse era um assunto frequente nos noticiários, manchetes apontavam os vilões da crise, gado alimentado com ração animal. Os brasileiros, como em todas as crises, podiam ficar sossegados, o gado que se alimenta em pastos não sofre disso! O Brasil só tem gado bem tratado, diziam as autoridades.
O nome que deram para essa doença é péssimo, primeiro que parece piada, já imaginou a vaca louca, dizendo para os vizinhos que é Maria Antonieta? Com mania de grandeza, contando para as galinhas que ciscam no terreiro que seus antepassados são considerados deuses lá na Índia? A pobre da galinha que só consegue contar até três fica olhando para a vaca e pensa: Coitada da Mimosa, comeu muito capim-santo, e ainda rumina!
Aqui na minha casa o resultado não poderia ser menos maluco. Muita gente conhece por "carne maluca" o que chamamos aqui em casa de "CARNE LOUCA", uma delícia, dentro de um pão francês, fresquinho... é uma coisa!
Iguaria que está no cardápio permanente da família há gerações, eu creio, fui criada com carne louca pelo menos uma vez por semana.
Outro dia, as crianças estavam pleiteando algumas receitas um pouco esquecidas, então alguém lembrou: faz tempo que não tem vaca louca! Ainda bem, né? O mal da vaca louca foi um problema muito sério, o Brasil teve dificuldade para provar que seu gado (sou uma mãe que discute as notícias com os filhos! Moderna, né?)... Não, não é nada disso, vaca louca, aquela carne com cebola (por isso que abandonei a receita, meu olho arde uma semana!).
Ai, ai, ai, vamos lá, a criatura tinha uns cinco ou seis anos no auge da crise, via na televisão aqueles vídeos de vacas se tremelicando, assim como o leite, na cabeça cheia de ideias de uma criança, a carne também vem da vaca, então essa carne cheia de cebola, pimentão, azeitonas e mais um monte de coisas, deve ser feito com a carne dessa vaca!
Brilhante conclusão! Ninguém contava com tanta astúcia!
Então, eu a destruidora de hipóteses ingênuas vou lá com a foice da realidade e acabo com a fantasia!
O certo é que não vou me livrar tão cedo da lembrança do prato, e com olhos ardendo ou não vou fatiar as cinco cebolas para alegria de todos. Como uma coisa puxa outra, junto com a carne louca vou fazer outra especialidade, a caponata, beringela, mais pimentão, mais cebola, mais azeitona, que aliás fica uma delícia no pão com salame!

Agora tenho que ir para a cozinha, estou salivando!

PS: O amor que Tumitinhas era pouco e se acabou!